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[Top 5] Ana Lúcia Merege

O Castelo das Águias é um lugar especial. Localizado nas Terras Férteis de Athelgard, região habitada por homens e elfos, abriga uma surpreendente Escola de Magia, onde os aprendizes devem se iniciar nas artes dos bardos e dos saltimbancos antes de qualquer encanto ou ritual.

Apesar de sua juventude, Anna de Bryke aceita o desafio de se tornar a nova Mestra de Sagas do Castelo. Aprende os princípios da Magia da Forma e do Pensamento e tem a oportunidade de conhecer pessoas como o idealizador da Escola, Mestre Camdell; Urien, o professor de Música; Lara, uma maga frágil e enigmática, e o austero Kieran de Scyllix, o guardião das águias que mantêm um forte elo místico com os moradores do Castelo.

Enquanto se habitua à nova vida e descobre em Kieran um poço de sentimentos confusos e turbulentos, uma exigência do Conselho de Guerra das Terras Férteis põe em risco a vida e a liberdade das águias. Com o apoio de Kieran, Anna lutará para preservá-las, desvendando uma trama de conspiração e segredos que envolvem importantes magos do Castelo.

 

O Castelo das Águias, romance de Ana Lúcia Merege. Clique aqui.

O Top 5 da vez é com Ana Lúcia Merege, que em breve publicará pela Editora Draco o segundo livro da série iniciada por “O Castelo das Águias”.  O título provisório é “Um Ano e um Dia”.

Muitas influências podem ser percebidas na série. A autora fala aqui sobre as que considera as cinco mais importantes, salientando que, por trás de cada uma, há todo um conjunto de referências que aparecem nos livros e contos do Castelo.

 

  1. Xamanismo norte-americano

Sempre me interessei por mitologias e sistemas de crenças, mas deixo claro que não pretendo me apropriar tradições às quais não pertenço. Como todo não-iniciado, conheço os ensinamentos xamânicos em linhas gerais, e me identifico com eles por preconizar a integração com a natureza, o respeito pelo semelhante e, sobretudo, aquilo que os Navajo chamam de “Caminhar em Beleza”, ou seja, a busca da harmonia em todos os aspectos.

Anna de Bryke, narradora de “O Castelo das Águias”, é quase humana, mas cresceu com a tribo élfica de sua avó, que imaginei tendo por base os povos nativos americanos (não um deles em especial). Eles são caçadores, têm um xamã, animais de poder. Anna leva essa bagagem para o Castelo das Águias. Lá, ela vai tentar resolver todos os conflitos através da palavra, da negociação. Nem sempre será bem-sucedida, mas mudará a vida de muita gente. E, claro, ela também vai mudar muito à medida em que deixar seu mundo protegido e tiver que atuar num outro onde nem todos são bonzinhos e bem-intencionados.

Draco: Você parece não tentar esconder que Anna de Bryke é o seu alter-ego.

Sim, em essência ela é. Anna expressa os mesmos valores que eu e luta com as mesmas armas: as da palavra. Se eu quero passar uma mensagem, é a do Caminhar em Beleza, que aliás também tem um pouco a ver com a filosofia hippie do “faça amor, não faça guerra”. E, assim como tem xamãs, o livro tem hippies: os seguidores de Odravas, um sábio que pregava a volta à natureza e à vida simples. Então, toda a série faz referências a essas filosofias, que se baseiam na paz e na tolerância.

 

  1. Mitologia nórdica (e outras)

No período anterior e ao longo de boa parte da era viking, os povos escandinavos tinham um imaginário riquíssimo, um incrível repertório de sagas de deuses, elfos e dragões. Parte dele sobrevive na cultura tradicional, além da literatura, é claro. Eu tive meu primeiro contato bem pequena, através dos desenhos do Thor (prefiro o Loki desde então) e logo comecei a pesquisar e conhecer mais a respeito. Na verdade sou fascinada por esse universo. Tanto que Athelgard, o mundo onde é ambientada a série, se baseia na mitologia nórdica, pois parte da população descende de elfos e vanirs que deixaram os Nove Mundos antes do Ragna-Rok. E, embora eu tenha me inspirado em outras culturas (o Povo Alto do Leste, por exemplo, se espelha nos moçárabes, descendentes dos islâmicos que viviam na Península Ibérica), as sagas de homens e elfos se referem quase que exclusivamente aos mitos nórdicos.

Draco: Falando em elfos, os de Athelgard são diferentes dos de Tolkien, não são?

Mapa de Athelgard, criado por Ana Lúcia Merege.

Bastante. Os que vivem na ilha exterior nem são mais elfos, são descendentes de humanos, vanir e dos elfos originais, dos quais restam alguns na Ilha do Escorpião. Eles morrem após uns 150 anos e são fisicamente muito parecidos com os homens. Têm uma cultura um pouco diferente, mas nem tanto. Afinal, pensem bem: se podem existir meio-elfos, e em Athelgard existem muitos, um elfo e um humano têm de ser biologicamente quase iguais. Não que fossem no início, mas aí a magia élfica entrou em ação e.. enfim, nem os mestres de sagas sabem exatamente como tudo começou!

 

  1. Teoria dos Sete Raios (e outros esoterismos)

Enquanto meu gosto por mitologia e literatura veio da infância, prolongando-se até hoje, o passeio pelas ciências ocultas se deu quase que exclusivamente na adolescência. Foi quando estudei astrologia, pertenci a uma Ordem e li todos aqueles livros esotéricos publicados pela Editora Pensamento. Isso foi nos anos 1980, quando não havia Internet, então procurar por informação era uma verdadeira viagem iniciática.

Hoje, o que ficou dessas leituras serve principalmente como base para escrever literatura fantástica. Mas alguns conceitos ficaram, dentre eles dois que provêm especificamente da Teosofia: a ideia da “forma-pensamento”, ou seja, da força mental agindo sobre a energia sutil, que depois eu usei como base para a Magia da Forma e Pensamento, e a dos Sete Raios, segundo a qual existem sete diferentes formas de expressar a energia. As alas e torres do Castelo das Águias se baseiam nesse sistema – a Ala Violeta, por exemplo, é onde ficam os artistas, já que o Raio Violeta é o da criatividade.

Draco: E o nome da cidade em que fica o Castelo, de onde saiu?

Pois é, Vrindavahn é uma forma modificada de Vrindavan, uma cidade que realmente existe na Índia e que dizem ser o lar do Senhor Krishna, onde ele tocava flauta e namorava as pastoras. E, no meu livro, Vrindavahn tem muitos artistas e saltimbancos – de fato, é o lugar ideal para uma Escola de Magia onde a Arte também é tão importante.

 

  1. Roke, a Escola de Magia de Earthsea

Sempre li de tudo, ou quase, e com certeza existem influências literárias de todo tipo na série do Castelo das Águias. No entanto, a principal influência da literatura fantástica na Escola de Magia, e que também aparece em alguns outros pontos da história, é a Escola de Roke, criada por Ursula Le Guin na série “Earthsea” (Terramar). A ideia da Magia da Forma e Pensamento, de que eu já falei, e o sistema de aprendizado da Magia através da Arte ganharam substância a partir do sistema existente em Roke, onde há um mestre de ilusionismo, um que dá os nomes às criaturas e objetos (eu também trabalho com a ideia da Magia dos Nomes, que se entrelaça com as sagas ensinadas pela Anna) e um que lê os padrões para prever as tendências futuras, como faz o Camdell. Várias cenas dos livros do Castelo me fazem lembrar e às vezes mesmo se inspiram em trechos de Earthsea. Lear, o Encanta-Dragões, é uma espécie de Jasper (só que mais bonzinho) e mais para a frente há um personagem que é uma homenagem ao Ged.

Draco: Muita gente, ao ler seu livro, o associa com Harry Potter.

Sem dúvida, o fato de se passar numa Escola de Magia leva a pensar isso. Até pode ter alguma influência mesmo, porém mais na ambientação e em alguns personagens do que na história em si – e, principalmente, na forma como é tratada a Magia. No Castelo das Águias não temos provas, notas, anos letivos, uniformes, a estrutura de Casas… É um internato, mas não o internato inglês. É mais medieval, mais no esquema dos aprendizes de corporação ou, talvez, nos pajens e escudeiros que viviam nos castelos dos senhores. Mas acho legal que pensem na série do Harry: além de eu também gostar, é uma das favoritas do público jovem e jovem adulto ao qual se destinam os meus livros.

Draco: E outras influências da literatura fantástica, como Tolkien, Lewis ou George R. R. Martin?

De Lewis acho que nada, ou muito pouco. Posso ter alguma influência de Marion Zimmer Bradley, autora de As Brumas de Avalon, e também de Tolkien, o que é quase inevitável em alta fantasia. Martin eu conheci agora, estou lendo a série As Crônicas de Fogo e Gelo, que me inspira a melhorar cada vez mais as descrições e as cenas de ação.

 

  1. Labirinto, a Magia do Tempo

Sou fã de filmes ligados a fantasia, como a recente trilogia O Senhor dos Anéis, mas curto principalmente os mais antigos: Krull, O Cristal Encantado, Conan, O Feitiço de Áquila e por aí vai. Algumas imagens desses filmes ficaram na memória e às vezes retornam quando estou imaginando o Castelo. De todos, porém, o que teve mais influência na série foi o “Labirinto”, estrelado por David Bowie como Jareth, o Rei dos Duendes. Jareth foi uma influência direta na composição de Hillias, o vilão do primeiro livro do Castelo, e principalmente na relação dele com Lara, que não exclui amor, mas um amor egoísta e possessivo que pode destruir. Toda vez que escuto aquela música, aquela frase “Everything I´ve done I´ve done for you…” eu lembro da Lara e do Hillias. É o tema deles… hehehe.

Draco: Você falou bastante de livros e filmes. E música? E HQ?

Eu gosto de música medieval e de bandas como Blackmore´s Night, além de umas mais antigas como Renaissance e Uriah Heep. Também ouço rock, mas principalmente as baladas. Algumas músicas me inspiram, gosto de ouvi-las nas pausas da escrita, mas não as vejo como influências maiores.

Quanto a quadrinhos, uma série foi muito importante na criação do universo: “Elfquest”, de Wendy e Richard Pini. Em Elfquest, os Wolfriders e outros povos descendem dos “verdadeiros” elfos (que nesse caso vieram de outro planeta), assim como os elfos de Athelgard são descendentes dos de Alfheim. Há também a ligação dos elfos com os lobos, um elo mental, que, nos meus livros, existe entre o Mestre das Águias e as águias guerreiras.

Acredito que algumas das influências de que falei sejam bem evidentes para quem lê. Outras existem só para determinado tipo de leitor – as esotéricas por exemplo – e outras talvez tenham sido incorporadas de forma inconsciente, sem que nem mesmo eu tenha percebido. O importante é que estejam funcionando bem dentro do meu propósito, que é tão-somente de contar uma história interessante, sem grandes pretensões, mas que dê prazer ao leitor. E, se possível, que o faça querer ler o próximo livro da saga.

Ana Lúcia Merege trabalha na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. É autora dos livros juvenis “O Caçador” e “Pão e Arte”, do ensaio “Os Contos de Fadas”, além de contos e artigos. Seu blog pessoal é A Estante Mágica de Ana (http://www.estantemagica.blogspot.com).

Pela Draco, além da série do Castelo das Águias, também publicou os contos “A Encruzilhada”  e “O Anel do Escorpião”, que narram histórias relativas ao passado de Kieran de Scyllix. Ambos estão disponíveis em e-pub na série Contos do Dragão. Informações sobre a série e o universo do Castelo estão no blog http://www.castelodasaguias.blogspot.com .

0 Comments

  1. Liége disse:

    Eu, que amei o Castelo das Águias, tinha ficado impressionada quando encontrei referências aos sete raios, formas pensamento, xamanismo, mitologia nórdica, tudo em um livro só! Parece que a Ana pegou tudo o que eu gostava e colocou na mesma história, de uma forma maravilhosa ainda. Fiquei feliz de conhecer mais influências da Ana, e recomendo que todos leiam essa maravilhosa obra de fantasia!