O conto que apresento aqui é, na verdade, a reescrita “dark” de um texto produzido originalmente nos idos de 2012, 2013 para uma coletânea que reuniria contos sobre deusas de várias mitologias (mais uma ninfa grega e uma fada celta — esta ficou a meu encargo) e que acabou não sendo lançada.
Para escrevê-lo, eu decidi me basear nos Mabinogion e nos mitos galeses, aproveitando as pesquisas sobre o Rei Arthur que também embasaram meu conto em “Excalibur”. Desta vez, me inspirei nos Tylwyth Teg, termo em galês medieval que significa “bela família”, pois é justamente assim que os primeiros textos, lá pelos idos do século XIV, se referem a esses duendes e fadas. Mais tarde, no entanto eles são descritos como feios, baixinhos, peludos… Contradição? Não! É que Tylwyth Teg não é uma criatura, como o leprechaun, por exemplo, e sim todo um grupo de seres feéricos, que inclui desde as criaturas mais encantadoras até as horrorosas. Na verdade, a maior parte delas pode ser as duas coisas, dependendo de terem ou não usado glamour, um encantamento que faz os humanos enxergarem as fadas e seu reino diferentes dos que são.
Essa ilusão criada pelos feéricos para olhos mortais tem bastante importância tanto na primeira versão – que tinha final feliz, mas acho que mesmo assim vocês iriam gostar – quanto nesta, que foi reescrita de forma a atender ao pedido do editor de que todos os contos fossem de fantasia dark. Rhydderch ap Rhys, o bardo incauto que adentra o mundo das fadas, comete mais erros aqui do que no conto original, e o resultado se traduz em sofrimento e desolação. Ainda assim, não consegui ser inteiramente cruel com Rhydderch… ou talvez o tenha sido mais do que se imagina, em se tratando de um bardo cuja sorte e futuro dependem de suas canções.
Espero que os leitores gostem deste conto, e um dia, quem sabe, venham a ler a versão original. Também espero que tomem cuidado com aquilo que prometem. Cautela nunca é demais quando se trata de negócios feitos com o Povo Pequeno.
O Reino Invisível sempre esteve perto de nós. Além dos círculos de pedra, no coração das florestas, em dimensões das quais nos separa uma frágil barreira, um povo muito antigo nos espreita com olhos cheios de paixão, curiosidade, sabedoria – mas também inveja e maldade. Seu universo é cruel e violento, repleto de traição, vingança e crianças roubadas. E basta um rápido olhar para os contos tradicionais para saber que os duendes não são as criaturinhas adoráveis que as versões modernas fazem parecer.
Você pode pisar num círculo de trevos ou cogumelos. Pode fiar uma meada de lã. Ou pode participar do novo projeto da Draco no Catarse. De qualquer jeito, prepare-se: uma vez que tenha entrado em seus domínios, os duendes não vão te largar, e você talvez só consiga voltar de lá daqui a muito tempo. Pelo menos o tempo que levar para ler este livro até o fim.