Meu primeiro livro publicado foi Medo, Mistério e Morte, lançado em 1996 por uma pequena editora chamada Didática Paulista, que de lá para cá mudou de nome e se especializou em livros evangélicos (o que mostra, entre outras coisas, que o destino é um grande ironista). O título, imagino, já deixa claro que se trata de uma coleção de contos de terror. Muitas dessas histórias tinham inspiração direta na obra de H.P. Lovecraft, ainda que eu me reserve o direito de achar que fiz algumas contribuições originais aos Mitos de Cthulhu, como a criação de um livro maldito em tupi-gurani, o temível Ang-Mbai Aiba.
Cheguei a militar no fandom internacional de Lovecraft e do terror literário, filiando-me por algum tempo à Horror Writers Association, publicando alguns trabalhos em inglês, não só online como também no clássico fanzine de papel Crypt of Cthulhu.
Bom, acontece que o tempo passou, meus interesses se diversificaram e acabei desenvolvendo uma certa antipatia ideológica pelos Mitos — ou, mais especificamente, pela ideia de que ter curiosidade é uma coisa ruim, pressuposto que está na base de muita ficção inspirada em Lovecraft. Some-se a isso o dado de que o terror lovecraftiano era um nicho minúsculo dentro de um nicho minúsculo, e o fato é que acabei partindo para outras plagas literárias.
Foi com alguma diversão, portanto, que vi, nos últimos anos, Lovecraft e um de seus precursores, Robert W. Chambers, virarem figuras “quentes” no mundo da cultura pop, a ponto de essa minha vida pregressa ter me credenciado a fazer as anotações para a edição da Intrínseca de O Rei de Amarelo. É meio envaidecedor ver o zeitgeist chegando aonde eu estava 20 anos atrás, mas também é um tanto quanto irritante. Quando chegar a vez de Clark Ashton Smith virar modinha, provavelmente vou querer dar com a cabeça na parede.
Escrevi tudo isso aí em cima só para anunciar que finalmente consegui rescindir meu contrato com a ex-Didática Paulista, o que me liberou para relançar Medo, Mistério e Morte na casa atual de minha obra ficcional, a Editora Draco. Agora com um novo título — Mistérios da Morte — e ampliado com outros contos da minha fase lovecraftiana (incluindo Rex Ex Machina, sobre o Rei de Amarelo), o livro ainda não saiu, mas os contos individuais já estão disponíveis em formato e-book, e podem ser adquiridos, um de cada vez, neste link.
Essas histórias passaram apenas por uma revisão bem leve entre suas encarnações anteriores — no livro de 96, em fanzines ou em revistas que já não circulam mais, como a Isaac Asimov brasileira e a Dragão Brasil — e, portanto, podem parecer meio imaturas se comparadas a meu trabalho mais recente, como este conto, premiado há algum tempo, ou o romance Guerra Justa, de ficção científica. Ainda assim, há quem diga que esses meus contos primevos é que eram os melhores. Você, é claro, está convidado a tirar suas próprias conclusões!
Post originalmente publicado no blog do autor.
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Não sou ligada em contos de terror, mas gostaria de conhecer esse livro, para poder dar uma opinião!
http://www.elianedelacerda.com
Ah, o Carlos Orsi é um ótimo autor, tenho certeza que curtirá outras obras dele. 🙂