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As cidades de “Crônicas de Atlântida”: Pótnias Calípolis

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A Atenas mítica

A maior parte dos que se interessam pelo mito de Atlântida, criado por Platão nos diálogos Timeu e Crítias, negligenciam completamente a descrição da Atenas mítica que a precede, embora seja fundamental para o entendimento da fábula. Sinal de que o filósofo falhou em seu propósito didático: fascinados pelas maravilhas naturais e arquitetônicas que Platão atribuiu à Atlântida, os leitores deixaram de tirar a pretendida lição de ética e política: sonharam com a supostamente corrupta, luxuosa e imperialista Atlântida e esqueceram a pequena, sóbria e virtuosa Atenas que em seu relato sai vitoriosa.

No mito, Atenas liderou os povos helenos contra a tentativa de Atlântida, que já dominava a maior parte do Mediterrâneo, de conquistar a Grécia e o Egito. Mesmo abandonada pelos demais, à beira dos maiores perigos, venceu os invasores, preservou os gregos da escravidão e libertou a todos os demais povos do interior das Colunas de Hércules. Entretanto, algum tempo depois, durante um dia e uma noite horríveis, todo o exército de Atenas foi tragado de um só golpe pela terra e a ilha de Atlântida afundou no mar e desapareceu.

A Atenas lendária de Platão, que teria coexistido com Atlântida nove mil anos antes da Atenas clássica de sua época, coube na partilha dos deuses a Atena e Hefesto, ou seja, à sabedoria e à técnica, ao pensamento e ao trabalho. De comum acordo, os dois deuses a povoaram de autóctones – ou seja, de humanos nascidos ou criados do próprio solo. Nessa cidade, em forte contraste com a situação na Atenas real, homens e mulheres tinham direitos e deveres iguais, inclusive em relação à guerra: a representação de Atena armada seria uma lembrança disso. Enquanto a maioria dos cidadãos trabalhava no campo ou nos ofícios, a classe dos guerreiros vivia à parte, possuindo em comunidade tudo o que necessitava para viver e recebendo dos demais cidadãos o sustento necessário para proteger a cidade.

Platão acrescenta que desempenhavam todas as funções que descrevera ao falar dos “guardiães que havíamos imaginado”, ou seja, na cidade ideal proposta no diálogo A República, que em algumas passagens Sócrates chama de Calípolis, “Cidade Bela”. Os melhores dentre a classe dos guardiães, ou guerreiros, eram escolhidos para serem os arcontes, ou governantes. Depois de completarem o estudo de ginástica e música dado a todos, estudavam filosofia por cinco anos e depois retornavam à vida militar por quinze anos para, aos 50 anos, entrar na classe governante e passar a ter no poder sua única posse.

O casamento, portanto, era coletivo, assim como o cuidado das crianças. As uniões sexuais eram determinadas por sorteio (na realidade, manipulado pelos arcontes para que os melhores tivessem filhos com as melhores) e eram tomadas precauções para que ninguém soubesse de quem era pai, de maneira que todos se vissem com pais, mães, irmãos ou filhos. As crianças que fossem julgadas indignas da classe dos guerreiros seriam entregues aos demais cidadãos para serem criadas. Esses arcontes cuidavam para que o número das mulheres e dos homens capazes de portar armas fosse sempre o mesmo, ao redor de uns vinte mil. Segundo Platão, eram conhecidos em toda a Europa e Ásia pela beleza de seus corpos e pela virtude de suas almas e eram os líderes livremente aceitos de toda a Hélade.

Seus domínios eram um pouco maiores que os da Atenas do tempo de Platão (incluíam as vizinhas Oropo e Mégara) e suas terras eram mais férteis, “capazes de alimentar um grande exército e isentá-lo do trabalho da terra”. Quatro dilúvios, ao longo de nove mil anos, haviam carregado suas terras “gordas e macias” para o mar, deixando como que “um esqueleto de um corpo desgastado pela enfermidade”, um espinhaço rochoso.

A Acrópole seria então uma ampla plataforma plana que abrangia a maior parte da cidade de Atenas de seu tempo. Uma só noite de dilúvio teria desnudado a área, deixando apenas a colina que mais tarde serviu de fortaleza à Atenas arcaica e no tempo de Platão se tornara santuário onde se localizava o Pártenon. No mito, o Egito teria tomado dessa Atenas pré-histórica as artes e ciências, a separação das classes em castas fechadas (sacerdotes, artesãos, pastores, caçadores, agricultores e soldados) e a forma dos armamentos, escudos e lanças.

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Pótnias Calípolis

Em Kishar, o mundo de “Crônicas de Atlântida”, a Atenas idealizada por Platão existe com o nome de Pótnias Calípolis – “A Cidade Bela da deusa Pótnia”, em referência à Calípolis de “A República” e ao nome da deusa micênica Pótnia, “Senhora”, que na Idade do Ferro se confundiu com a Atena homérica e clássica e se tornou um de seus epítetos, como Pótnia Athênaíê. Calípolis tem cerca de 200 mil habitantes em seus quatro bairros (outros 200 mil vivem na zona rural) e segue de perto a descrição de Platão nos principais aspectos físicos e políticos. Une o que o filósofo via de positivo em Esparta – disciplina, sobriedade, respeito pelos superiores, eficiência militar, hierarquia de castas com igualdade dentro delas (inclusive entre homens e mulheres)  – com o que ele julgava que lhe faltava, uma classe dirigente capaz de cultivar e aplicar uma cultura filosófica superior.

Todas as crianças, de ambos os sexos, vão à escola até a maioridade, quando são submetidos a testes morais, físicos e mentais para determinar suas capacidades. Os reprovados tornam-se produtores (demiourgoi), que podem ser comerciantes, trabalhadores, pescadores, comerciantes ou agricultores conforme suas inclinações e capacidades. São autorizados a possuir, administrar e usufruir de dinheiro e bens privados (inclusive escravos) e formar famílias, mas não podem vender suas terras e negócio sem autorização, nem legá-los a seus descendentes. Cabe à cidade conferir terras, oficinas, ferramentas, barcos ou o que for necessário para os jovens se estabelecerem em suas ocupações.

Os aprovados tornam-se guardiães (phulakoi) e passam em seguida por outro ciclo de educação e outro processo de seleção. Desta vez, se falham tornam-se meros guerreiros (stratiotai). Se bem-sucedidos, tornam-se estudantes (mathetai), destinados a serem futuros arcontes (arkhontes) e fazem estudos adicionais de filosofia. Depois retornam casino spiele à vida militar até surgir uma vaga no conselho dos arcontes, a Boula, formado por trezentos e sessenta , o que costuma acontecer na meia-idade.

Todos os arcontes se reúnem quando é preciso votar leis. A cada mês, trinta formam o conselho executivo ou Pritania e a cada dia, um destes o preside. Assim, cada arconte é o Epístata, Chefe de Estado de Pótnias Calípolis e da Confederação Acaia, um dia por ano.

Protegida por um complexo sistema de fortificações, Calípolis lidera uma confederação chamada Acaia, mencionada de passagem no primeiro romance, “O Tabuleiro dos Deuses”. É cenário de parte do segundo livro, “O Olho de Agarta” e pátria de Lúsia de Calípolis, uma de suas personagens mais importantes. A Confederação Acaia é vassala nominal de Agarta, mas a situação militar e os interesses de seus artesãos e agricultores a tornam, na prática, neutra entre ela e Atlântida, grande importadora de seu vinho e azeite, exportadora de artefatos mágicos e bens de luxo e dominadora da maior parte dos mares e litorais à sua volta. São milhares de pequenas cidades autogovernadas, organizadas por Calípolis em 50 regiões administrativas, cada uma delas teoricamente capaz de mobilizar vinte mil soldados quando necessário, além dos vinte mil do exército permanente da capital. O clima é mediterrâneo, ou seja, subtropical seco e quente no verão e úmido e chuvoso no inverno.

Os quatro bairros são:

Acrópolis – A “Cidade Alta” é formada pela plataforma murada no coração da cidade, ocupada apenas pelos guardiães, que vivem à parte, em torno do santuário de Pótnia, deusa da sabedoria e Prômato, deus do engenho. Não usam dinheiro e tudo que precisam é fornecido pelo Estado. Trata-se de um recinto único, como em torno do jardim de uma só residência e todos os guardiães se consideram, conforme a relação de idade, irmãos, filhos ou pais de uma mesma família. Fazem sexo livremente entre si e amamentam e criam em comum as crianças, que as mães não podem ver quando nascem e são imediatamente afastadas para berçários coletivos para que sua filiação biológica nunca seja identificada. Os guerreiros moram em alojamentos comunitários do lado norte, que procuram manter a equidistância entre a abundância excessiva e uma pobreza servil. No lado sul, há jardins, ginásios, refeitórios e auditórios. Também na Acrópolis situam-se a Bula ou Conselho dos Arcontes; o Tolos ou sede do Executivo; o arquivo do Estado; a Corte de justiça; e um campo para exercícios militares.

Catópolis – A “Cidade Baixa” é formada pela periferia e as encostas da Acrópole, habitadas por agricultores que cultivam os campos ao redor e também artesãos, operários, pequenos comerciantes e uns poucos estrangeiros, que vivem em famílias nucleares ou ampliadas convencionais. Ao atingirem a idade adequada, meninos e meninas são recolhidos a internatos para serem educados juntamente com os filhos de guardiães e de forma igual até a maioridade, quando são submetidos a testes morais, físicos e mentais. Os mais qualificados são então admitidos na classe dos guardiães e passam a morar na Acrópolis e os demais passam a viver na Catópolis, no porto ou na zona rural. Situa-se no sudeste da Catópolis a Ágora e a noroeste o Cerâmico, bairro onde são manufaturados vasos e ânforas nos quais são exportados vinho e azeite.  Acrópolis e Catópolis, juntas, são chamadas Astu, “Cidade” propriamente dita.

Mesogeia – A “Terra do Meio” é uma zona semirrural protegida por muralhas, capaz de abrigar refugiados e garantir o abastecimento de água, madeira e pasto para cavalos e animais de carga, caso a cidade seja assediada e seus campos ocupados.  Inclui também portos pesqueiros e granjas produtoras de aves, ovos e hortaliças.

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Parália – O “Litoral” é o porto mais importante de Calípolis e da Acaia, habitado por marinheiros, pescadores, trabalhadores da construção naval e mercadores. É também a base naval da marinha, comandada por guardiães e a moradia da maior parte dos estrangeiros residentes em Calípolis.

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