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Raphael Fernandes dá cinco dicas para roteiro de quadrinhos

Raphael Fernandes na CCXP

Com quase mil páginas de quadrinhos publicadas, Raphael Fernandes é um dos mais produtivos roteiristas do mercado nacional. Entre seus principais trabalhos estão Ditadura No Ar, Apagão e A Teia Escarlate, além disso suas obras são conhecidas por serem de gênero como terror, fantasia, ficção científica, crime etc.

Raphael também é editor dos quadrinhos da Editora Draco e realiza todos os processos de seleção para as coletâneas da casa. Nesse processo, ele vem identificando problemas comuns dos roteiros enviados pelos novos autores e que sempre são determinantes na seleção ou não de seus projetos.

Pensando nisso tudo, pedimos para o Raphael fazer uma lista com 5 coisas que todo roteirista deve desenvolver antes de enviar um roteiro para uma editora ou mesmo para um desenhista. Confira:

1 – Não tenha um projeto dos sonhos

Esse é um problema gravíssimo para a maior parte dos aspirantes a contadores de história em geral, não só dos quadrinhos. Não tem nada mais perigoso do que achar que teve uma ideia brilhante e ficar pensando apenas nela por anos e anos, sem chegar a lugar algum. Todas as ideias que você tem deve ser colocadas à prova na produção prática mesmo de seu objeto final. A principal coisa que deve estar na sua cabeça é: isso é viável dentro das minhas atuais limitações?

Por isso, não caia na armadilha de querer fazer uma saga com 80 volumes de 200 páginas. Provavelmente, você não só não tem pano pra tanta manga, como não possui experiência para conduzir um leitor por tanto tempo. Fora que achar um desenhista pra encarar esse trabalho de uma vida não é fácil. Por isso, pare de copiar formatos estrangeiros e tente pensar no que consegue fazer aqui, agora. Comece por HQs curtas de 20 páginas, com história fechada. Aos poucos, vai perceber que até mesmo 60 páginas são um desafio e tanto.

Ou seja, ao invés de ficar brisando sobre o que quer fazer, trabalhe naquilo que você pode fazer e se dedique em melhorar cada vez mais.

2- Nunca se contente com a primeira versão

Noventa por cento dos roteiros que recebemos parece que nunca foram lidos pelo próprio autor. Quando a autoria é nossa, muitas vezes não conseguimos perceber os problemas em sua construção narrativa, nos personagens, nos diálogos e na trama. Muitas vezes, dentro da sua cabeça há informações importantes de tudo isso, mas que você não percebeu que precisa mostrar pro leitor entender também. O segredo pra que isso não ocorra é deixar o texto que você considera pronto “na geladeira” por uma semana e reler. Não é reler como se fosse seu. Mas reler com aquele olhar crítico de “eu vou achar que está uma merda” e anote todos os problemas que encontrar. Depois vá trabalhando no texto até resolver todos eles. Por mais que você não seja experiente, só essas primeiras revisões já ajudam você a chegar em um texto mais interessante. Autocrítica é IMPORTANTÍSSIMA para qualquer escritor de quadrinhos.

3- Síntese nos diálogos

Na literatura e na vida real, muitas vezes falamos muito de uma vez só, nos repetimos bastante e fazemos um monte de rodeios para chegar onde queremos. Infelizmente, os quadrinhos são uma mídia determinada pelo ESPAÇO. Ou seja, texto ocupa espaço de arte e deve ser pensado para trabalhar EM CONJUNTO com ela e não reafirmando ela toda hora. Os diálogos de quadrinhos devem ser curtos e diretos, mas sem deixar de colocar sua personalidade. Aí que mora o desafio.

Sempre sou muito verborrágico e meus personagens falam pelos cotovelos. Por isso, eu costumo fazer duas ou três leituras posteriores só pra cortar excessos nas falas e distribuir melhor as conversas nos quadros de cada página. Já cheguei a acrescentar 2 ou 3 páginas em um roteiro só pra caber o papo. Uma boa sugestão é sempre escrever pensando em menos páginas do que terá no final e depois usar o espaço extra para desafogar a narrativa.

4- Nada acontece, feijoada

As melhores histórias são focadas em conflitos e dilemas. Afinal, nada mais cansativo do que um monte de acontecimentos lineares que levam ao lugar mais óbvio possível. Por isso, muitas vezes, temos que atrapalhar o personagem em seus objetivos e deixar o leitor na tensão do que pode acontecer.

Seu objetivo como escritor é despertar o interesse do leitor pela sua criação, colocar os personagens em conflito pode ser uma boa forma de construir essa sensação. Você apresenta bem o personagem, faz com que o leitor se identifique com ele e depois ferra com a vida dele.

Essa está diretamente ligada ao lance de você reler o seu projeto de forma crítica e perceber essas nuances. Tá tudo acontecendo sem nada atrapalhar? Precisa mexer.

5- Escreva sobre o que conhece

O que eu mais vejo é gente fazendo algo que não tem nada a ver com o que ela realmente entende. Por exemplo, escrever sobre lugares que nunca foi e nem mesmo fez uma pesquisa realmente completa sobre o lugar e seus costumes. Também é comum ver a galera insistir por caminhos que não combinam com seus próprios gostos ou o contrário tentam forçar pelo próprio gosto, mas não sacou que não tem nada a ver com ele.

Esse é um exercício de autoconhecimento, mas também de percepção. Será que não é o caso de começar a escrever a partir de suas próprias experiências de vida e expandir a partir disso? A sensação que eu tenho é de que o pessoal realmente não se esforça pra ter repertório, estudando os assuntos que quer trabalhar e se metendo em mais “experiências pessoais”.

Curso

Para quem quer aprender mais ferramentas para escrever suas próprias histórias em quadrinhos, Raphael Fernandes está oferecendo o Curso de Roteiro para Quadrinhos. Serão quatro manhãs de sábado (30 de junho e 07, 14 e 28 de julho), das 10h às 13h30, lá na Comic Boom (Rua Tijuco Preto, 361, São Paulo, próxima do Metrô Tatuapé).

Para mais informações, acesse: https://goo.gl/forms/STI1yM70moC6CQyU2

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