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Rafael Vasconcellos mistura art noveau e noir em quadrinhos

abelRevelado por seu trabalho em Ditadura No Ar, Rafael Vasconcellos, o Abel, tem construído uma bibliografia invejável como desenhista de quadrinhos. Seu estilo de arte mistura toda a leveza e detalhes da art noveau com a narrativa cinematográfica dos filmes noir. Ele já fez adaptação do Shakespeare, desenhou Bukowski e promete povoar um blecaute de garotas casca-grossa.

Rafael tem um traço sofisticado e tem verdadeira paixão pela figura feminina, sempre pesquisando e buscando trabalhar isso em sua arte. O mesmo pode se dizer sobre sua personalidade sempre serena e introspectiva, mas que guarda um voraz leitor e estudioso da cultura.

Aproveitamos para conversar com ele e entender melhor seu processo de criação. Confira:

abel-mulher1- Conte um pouco sobre sua trajetória profissional e onde podemos encontrar os seus trabalhos

Comecei a trabalhar com quadrinhos em 2010, quando consegui aprovação de um projeto meu no edital de quadrinhos da Secretaria de Cultura do Espírito Santo. Nessa época, eu já cursava Artes Plásticas na UFES e, desde então, tenho trabalhado tanto com ilustração e quadrinhos e, quando os prazos permitem, mantenho minha pesquisa em pintura e desenho.

2- Como foi que começou a se interessar por artes plásticas e quadrinhos?

Acho que sempre fui interessado. Como dizem, toda criança desenha, mas algumas simplesmente não param. Eu parei um tempo e quis trabalhar com outras coisas. Um ano e meio no curso de Letras na UFES me fez perceber que eu deveria realmente trabalhar com aquilo de que eu sempre gostei, então re-optei pelo curso de Artes Plásticas.

3- Sua participação na produção de Ditadura no Ar – Coração Selvagem se restringiu ao desenho ou havia um trabalho colaborativo?

Ditadura no Ar foi uma ideia que surgiu espontaneamente numa conversa com o Raphael e decidimos arriscar. Tínhamos muita liberdade (eu nos desenhos, Raphael no roteiro), mas sempre estávamos nos ajudando um pouco aqui e ali. Acredito que o Ditadura tem muito do seu clima residindo na narrativa visual, e isso sempre está de mãos dadas com o roteiro. Espiritualmente, ambos temos participação no que o Ditadura no Ar foi se tornando, mas o processo em si foi muito natural e equilibrado.

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4- Qual foi a parte mais difícil de narrar do álbum Ditadura No Ar – Coração Selvagem?

Tecnicamente, as montagens de página inteira sempre deram muito trabalho, mas foram gratificantes de fazer. Mas por todo o 4º capítulo, o desfecho da história de Felix e Lenina pairaram com um fantasma sobre todas as páginas, e o capítulo como um todo foi carregado de nostalgia mesmo antes de começar a produzi-lo.

5- Dentro do seu processo criativo, como funciona sua pesquisa para caracterizações de época?

As pesquisas de referências são uma atividade constante não só no processo criativo quanto no dia a dia. Tudo pode se tornar uma referência para um projeto. Trabalho muito com referências cinematográficas e obras de arte, e no caso de Macbeth (onde a pesquisa foi mais pesada nesse sentido), tomei a liberdade de criar um estilo próprio dentro dos costumes escoceses do século XI, trabalhando um conceito que buscasse uma identidade visual mais consistente para adaptação. Já no Ditadura no Ar, por ser uma época bem mais próxima, as fotos antigas de São Paulo já dão muita conta do recado, mas ainda procurei ver algumas produções audiovisuais para ter uma ideia de como as pessoas se portavam, gesticulavam, etc. que também passam o clima para o leitor assim como o vestuário e o cenário.

6- Para quem acompanha seu trabalho como ilustrador fica clara sua paixão em retratar a figura feminina. Como começou isso?

Não sei se seria exatamente uma paixão, mas certamente uma obsessão pela figura humana de forma geral. Talvez seja a única coisa que eu goste realmente de desenhar, e o começo disso estaria relacionando com quando eu comecei a desenhar. Hoje, eu justificaria o foco na figura feminina como uma investigação do nosso imaginário ocidental, onde a figura feminina ora é superexposta enquanto corpo, ora oculta por trás de um suposto “mistério feminino”. Gosto muito das possibilidades que a figura feminina traz em articular essas duas abordagens tão distantes (superexposição e ocultamento).

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7-  E aquela série sobre deusas para o inktober, vai ficar por isso mesmo?

A ideia começou quando uma ilustradora disponibilizou uma lista de 31 deusas que ela faria para o Inktober, e acabei optando por essa lista em 2016. Acredito que a ideia precisa ser um pouco mais maturada antes que eu possa fazer qualquer coisa relacionada a essa série. Acredito que tenha muito potencial, mas precisaria trabalhar mais a ideia para um futuro artbook e até mesmo algo mais incrementado.

8- Seu traço parece ter amadurecido bastante em Necromorfus, como isso vai influenciar e te ajudar nos próximos projetos?

Na produção de Necromorfus, tive a oportunidade de voltar a usar técnicas e materiais que por muito tempo deixei de fora dos quadrinhos. Aliando isso com uma maior segurança adquirida em projetos anteriores, pude deixar o traço mais solto e tomar a liberdade de experimentar novos caminhos.  Pretendo explorá-los mais nos projetos pessoais que pretendo começar no segundo semestre de 2017, assim como em outros trabalhos de ilustração e quadrinhos que vão sair ainda esse ano pela Draco, como o Apagão Extra com Raphael Fernandes.

9 – Cite cinco pintores/ilustradores que você considera absolutamente importantes para o seu estilo

Mike Mignola sempre foi uma ótima referência na ilustração, e hoje o David Aja figura ao seu lado com referências maiores. Na pintura, Picasso é (ou deveria ser) sempre de grande importância para qualquer artista de qualquer área, mas nas artes visuais, Gustav Klimt e Egon Schiele seriam as referências que mais interferem no meu trabalho, principalmente no de pintura.

Raphael Fernandes
Raphael Fernandes
é o editor de quadrinhos da Draco.

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