Esse conto surgiu do amálgama de referências que, hora ou outra, cruzo em minha jornada, alimentada pelas lembranças infantis. Qual garoto que, como eu, não torceu para Bruce Lee? Ou se deslumbrou com O Último Imperador da China? Ou se divertiu com o Clã das Adagas Voadoras ou O Tigre e o Dragão?
A China, esta potência econômica e cultural, tem uma história riquíssima, onde lenda e realidade entrelaçam-se de tal forma que é difícil reconhecer quando passamos da história para a imaginação. E para quem, como nós, brasileiros, que conhecemos da nossa história somente os últimos quinhentos anos, é espetacular pensar em uma tradição que iniciou dezesseis séculos antes de Cristo.
Mas, na verdade, quando fui escrever o conto, parti de outro lugar. Na época, havia devorado rapidamente uma trilogia sobre Gengis Khan, o famigerado, homicida, conquistador, imperador, amante e levemente esquizofrênico imperador dos mongóis. Com seus cavaleiros e mestres na arte do arco e flecha, Khan devorou o Império Jin, a norte, e marchou até o império Song, ao sul, conquistando aquilo que parecia inconquistável.
E é neste contexto que coloco a minha história. Por um ano, Gengis Khan sitiou Beijin, esmagando a cidade de fome pela ofensa ao tratado que ele assinara com o antigo imperador. Pesquisando os relatos dos que viveram naquele período, percebe-se a quebra gradual da sociedade como um todo. Como sempre, em situações extremas, o verniz das convenções sociais vai sendo arranhado pouco a pouco, até que o homem se torne o lobo do próprio homem. E, naquele momento, nada poderia estar abaixo da escala social do que um antigo descendente dos mongóis, um khitan.
Uma nota aqui sobre o funcionalismo público chinês. Desde eras atrás, a noção de burocracia está fortemente enraizada na cultura chinesa. Com um império tão vasto, era impossível manter a máquina estatal funcionando sem uma vasta e bem equipada massa de funcionários letrados e bem instruídos. As escolas chinesas se tornaram fonte primária para a ascensão social: se tornar um escriba ou um funcionário público representava se livrar de uma vida de penúria nos campos ou nas casernas. A escola, desta forma, representava o primeiro e mais importante degrau para a transformação de uma família.
Pungie ultrapassara todos os degraus. Se tornara, de alma, um jin, um chinês. Alcançara tudo pelo que buscara.
Infelizmente, Gengis Khan tinha outros planos para a cidade. E, agora, Pungie precisava confrontar o maior e mais perigoso conquistador de todas as eras.
Pobre Pungie
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