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El Ojo de Uk – entrevista com Gerson Lodi-Ribeiro sobre a antologia Solarpunk

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Abraham Martinez De onde veio a ideia de “solarpunk”?

Gerson Lodi-Ribeiro – Bom, depois do êxito da nossa antologia de ficção curta, Vaporpunk (2010), o editor da Draco, Erick Santos Cardoso, convidou-me para organizar uma segunda antologia, também retrofuturista, mas ambientada num passado mais recente: suas narrativas deveriam se passar no começo da era do motor a explosão.  Na época, Erick afirmou que, se essa segunda antologia também fosse bem-sucedida, faríamos uma terceira, não tão retrofuturista quanto as duas anteriores, mas cujas narrativas se passassem em sociedades que empregassem apenas fontes energéticas autossustentáveis.  Assim nasceu nosso projeto de triantologia punk – isto é, uma trilogia de antologias.  Publicada em 2001, a Dieselpunk foi a primeira antologia em âmbito mundial a abordar esse subgênero específico do retrofuturismo.  Um ano e meio depois, publicávamos a Solarpunk (2012: e-book; 2013: edição impressa), uma antologia onde procuramos empregar o conceito de “solarpunk” num sentido mais amplo, pois nossas narrativas de ficção curta abordavam várias fontes de energia renovável e não apenas a solar.

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AM – Por que é importante abordar “um futuro mais brilhante”?

GL-R – Porque muitos leitores já parecem cansados daquelas velhas tramas distópicas.  Talvez tenha chegado a hora de se escrever sobre futuros mais verdes e inspiradores, histórias do futuro não atormentadas pela poluição, a superpopulação, as extinções em massa e o aquecimento global.  Contos e romances sobre personagens razoavelmente inteligentes e sensatos vivendo numa civilização mais madura do que a nossa.  Isto não quer dizer que não haja conflitos, dilemas e situações dramáticas nessas civilizações ficcionais de viés solarpunk.  Pois, no âmbito da literatura fantástica, utopias assépticas costumam constituir leitura maçante.  Portanto, o desafio do autor de FC no subgênero solarpunk é elaborar um trabalho original e divertido, inserido numa história do futuro autossustentável.

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AM – Na space opera e no cyberpunk há sempre um “messias” ou “o escolhido” como protagonista das narrativas.  O solarpunk difere nesse aspecto?  Por quê?

GL-R – Embora eu não creia que já exista quantidade suficiente de ficção solarpunk para que possamos medir essa tendência “antimessiânica”, por assim dizer, sinto-me inclinado a concordar com você sobre essa ausência de personagens messiânicos nas narrativas solarpunks.  Quanto ao motivo dessa ausência, julgo que ela se dá porque, no subgênero solarpunk, os personagens não precisam lutar em e contra seus mundos distópicos.  Ou, talvez, porque os autores solarpunks apreciem desenvolver seus mundos ficcionais a partir de posturas mais otimistas.

AM – A ideia de um futuro mais justo, igualitário e autossustentável soa algo utópico.  O que o subgênero solarpunk precisa para cativar o imaginário coletivo?

GL-R – Narrativas ecológicas e fantásticas em mundos autossustentáveis (numa paráfrase explícita do subtítulo da Solarpunk) não precisam ser necessariamente tão maçantes quanto as utopias literárias tradicionais.  Por outro lado, claro que é mais fácil para o autor inserir sua trama num cenário distópico clicherizado.  É tão fácil que boa parte do público leitor já se encontra intoxicada pelo consumo excessivo desse tipo de narrativa.  Daí, a meu ver, a relevância das narrativas solarpunks consiste justamente na possibilidade de apresentar conflito e drama de uma maneira plausível, fascinante e original, inserindo-as em histórias de futuro autossustentável.

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AM – Quando teremos Solarpunk: Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável traduzida para o espanhol?

GL-R – Pergunta excelente.  Pena que eu não lhe possa dar uma resposta definitiva, porque, embora tanto a Editora Draco quanto eu, como antologista, adorássemos ver a Solarpunk publicada em outros idiomas, sabemos que não é fácil persuadir um editor, digamos, espanhol ou hispano-americano, a apostar seus recursos nesse azarão movido a energia solar.  Por outro lado, também sabemos que, quanto mais falamos e escrevemos sobre a antologia, mais pessoas saberão que ela existe, ampliando um pouco as nossas chances reduzidas, certo?

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