Na postagem anterior, lembramos os personagens principais de O Tabuleiro dos Deuses, agora apresentar alguns dos personagens de O Olho de Agarta, segundo romance da série Crônicas de Atlântida em vias de edição pela Editora Draco, com mais desenhos de Fernando Salvaterra.
Vasukhya Parusyaladaliputra, para os amigos Vasu, é o primeiro personagem a surgir e seu ponto de vista é o foco da maior parte da narrativa. Seu primeiro nome foi um dos dois únicos citados por Annie Besant e C. W. Leadbeater como de moradores de Manova, a cidade descrita pelos teósofos na qual se passa a maior parte da trama. Vasu significa “morador” ou “habitante” em sânscrito e Vasuki o mitológico rei das serpentes que serviu de corda para os deuses hindus baterem o “oceano de leite” e com isso obter vários itens míticos e criarem novas divindades. Este Vasu também será instrumento do seu panteão, mas começa a história como um adolescente da casta tauta (guerreira) de Agarta, prestes a se graduar na escola militar. Para melhor compreender o que isso significa, confira a segunda postagem sobre os povos de Crônicas de Atlantida, que trata dos não atlantes.
Branco, louro e atlético como todos os jovens de sua casta, Vasu é filho do nayaka (posto comparável a “coronel”) Parusya, ajudante de ordens do comandante militar supremo da região e um homem rígido mesmo pelos padrões agartis. A formação e o caráter obediente e dedicado o fizeram um aluno exemplar, mas socialmente desajeitado e tímido com as mulheres. Há muito admira e deseja sua vizinha Madhavi, mas não sabe como se aproximar dela. Sua mãe Ladali julga ter chegado a hora de enfrentar esse problema.
Um breve trecho sobre Vasu em Crônicas de Atlântida: o olho de Agarta:
Ladali era uma loira alta cujo cabelo longo de oficial já estava visivelmente grisalho. Nariz afilado e queixo saliente sugeriam ambição e sagacidade. Sentada em posição de lótus num tapete e recostada a uma almofada cilíndrica, fechou o caderno onde estivera escrevendo – rascunho de algum relatório, talvez – e o recebeu com um leve sorriso. Ele fez a saudação militar, de braço estendido:
– Pelotão, descansar! – riu ela. – Não exagere, filho, sou sua superior, mas estamos a sós e ainda sou sua mãe. Venha cá, sente-se e me dê um abraço, faz um mês que não nos vemos… Veja só, este ano você vai conhecer o Fogo Sagrado, vai se graduar e parece que foi ontem que o tive no meu colo!
Ele ficou intrigado com a atitude da mãe, que raramente era tão calorosa. Sentou-se na frente dela na mesma posição e começaram a falar de trivialidades, mas a mãe insistiu, em especial, em saber se no seu pelotão havia flertes com as garotas. Vasu ficou embaraçado.
– Sim, alguns falam disso e de coisas mais atrevidas…
– E você, querido, não teve vontade de fazer isso?
Ele corou. Voltou a pensar na siksi Madhavi, a vizinha atraente que estava na escola militar feminina. Debaixo das cobertas do quartel, Vasu fantasiava que ele e ela eram designados para gerar filhos para a pátria e cumpriam alegremente o dever. Improvável, é claro. Os critérios misteriosos dos sindhus, encarregados de formar casais com o propósito de cruzar e cultivar linhagens tidas como promissoras, geralmente uniam completos desconhecidos.
– Sempre me ensinaram que devia esperar até os sacerdotes me unirem a uma esposa…
– Para ter filhos e uma família, sim, mas a vida não é só isso. Nem tudo que não é obrigatório é proibido, mesmo para um tauta, entende? Mesmo um bom guerreiro precisa de um pouco de prazer e alegria de vez em quando, até para não perder a vontade de viver e lutar pela Raça, pela Pátria, pelos deuses e por Sua Potência, o Manu. Eu já fui jovem e sei que as meninas também esperam por isso, é só chegar a elas com um pouco de jeito…
– Eu, hã… – não soube o que dizer e mesmo que soubesse, não conseguiria. Sentiu o rosto quente e desejou incendiar-se, transformar-se em pó e fumaça até desaparecer para sempre da face da terra.
Nascida e criada em Atlântis, esta é a segunda personagem a servir de protagonista. Tem a cor e os traços típicos dos senzares, o povo mais numeroso de sua terra e não é considerada especialmente bela por seu povo, mas sabe como cativar quem a atrai. Apresentou-se em Pótnias Calípolis, capital de Acaia, como Zi Sismau Tlalpan, artista e cronista. Mas é também agente e espiã da Comuna de Atlântis, a serviço do seu Instituto de Kisharografia e História e do culto de Chiuknawat. Não é o único segredo dessa moça esperta, lasciva e de inúmeras habilidades, mas adiantar mais que isso pode estragar várias surpresas para quem as aprecia.
Tlalpan significa “caráter decidido” na língua ficcional senzar, além de ser o nome de um bairro da cidade do México no mundo real, com o significado de “terra firme” em náhuatl. Como se verá, esse não é o seu nome verdadeiro, mas não deixa de ser adequado. Eis como aparece aos olhos de Vasu:
Era dois dedos mais baixa que Madhavi, por sua vez meia cabeça menos alta do que Lúsia ou Vasu. Trocara as roupas de mercenária acaia pelo que ele supunha serem trajes civis atlantes: calças bufantes vermelhas decoradas de dourado, amarradas pouco abaixo dos seios pequenos e redondos como romãs, de mamilos bem negros. Fora isso, usava apenas sandálias e bijuterias de turquesa e oricalco. Parecia mais jovem que Lúsia, da mesma idade dele ou pouco mais. Se estivera no exército, fora por pouco tempo, pensou Vasu.
– Gostaríamos de ver a praia, pode ser? – perguntou Lúsia, com o sotaque cantado dos acaios. Ele assentiu e se puseram a caminho. – Sou bicho d’água, nasci à beira-mar e há meses não o vejo. Máurula também…
– Máurula? – perguntou ele.
– “Pretinha” em acaio – disse Tlalpan, sem sotaque perceptível. – É como Lúsia me chama. Eu acho engraçado, porque em Atlântis ninguém me chamaria de preta – tinha um jeito peculiar de falar, enfatizando certas palavras e frases como se as grifasse com a voz. – Lá eu sou senred, “cor certa”, a cor dos senzares. Dizem que quando Karmó quis criar a humanidade, primeiro fez um boneco de sangue, sêmen, leite e tudo o mais, experimentou pôr no forno e ficou queimado demais, preto que nem carvão. Mesmo assim, lhe deu vida e assim apareceram os tlavatlis. Tentou de novo e para não passar do ponto, tirou muito cedo e ficou meio branco: nasceram os caris e fomoris, talvez também os mugais, que não são citados na lenda. Aí experimentou mais uma vez e dessa vez acertou: criou os senzares.
– Já viu que pretensiosa? – brincou Lúsia, fazendo bico.
– E nós, agartis? – perguntou Madhavi, curiosa.
– A lenda não diz, deve ser de uma época em que ainda não os conhecíamos. Mas conta também que Karmó tinha feito mais um boneco do qual só lembrou quando já tinha apagado e limpado o forno. Ficou com preguiça de cortar mais lenha e começar tudo de novo e ia jogá-lo fora, mas ao apanhá-lo ficou com pena, resolveu lhe dar vida assim mesmo e assim se originaram os nossos dengus, que são da mesma cor branquela de vocês…
Os quatro riram, embora Vasu não achasse tanta graça na história quanto na cara que imaginou que Iravan faria se a ouvisse. Curiosas essas crenças primitivas!
– Você fala agarti muito bem, Tlalpan… – cumprimentou.
– É impressionante! – interrompeu Lúsia. – Há online slots quatro meses eu lhe ensinava as primeiras palavras de agarti e agora ela fala e escreve melhor que eu, que faço esta rota há dez anos!
– Tenho muito jeito pra usar a língua – admitiu Tlalpan. Esticou a dela, fez um movimento significativo e olhou para Lúsia, de um jeito que a deixou vermelha e fez todos rirem.
Madhumadhavi Banvarikitraputri, para os amigos Madhavi, é da casta tauta como Vasu e também está prestes a se graduar na escola militar, mas as semelhanças acabam aí. É uma garota bonita, extrovertida, popular e namoradeira, mas pouco levada a sério por ser de uma linhagem desprestigiada dentro de sua casta. Em troca, é pouco fanática pelas regras e moral de seu povo e tem um desempenho apenas passável, mas se esforça o necessário para tornar-se uma guerreira valquíria, o único caminho para conquistar alguma liberdade e prestígio na sociedade agarti.
Quando a história começa, tem pouco interesse por Vasu, para ela um caxias aborrecido e desinteressante. Seu nome refere-se em sânscrito a uma flor da primavera rica em néctar, ao mel que se produz a partir da flor e a uma bebida alcoólica doce, perfumada e inebriante que também a tem como matéria-prima, o que resume os efeitos que tem sobre o rapaz. Infelizmente, sua primeira tentativa de cortejá-la dá em nada:
A conversa com a mãe reavivara em Vasu uma vaga expectativa de emoções mais fortes, tais como alguns colegas mais velhos se vangloriavam de ter experimentado no ano anterior. Ao ver Madhavi desacompanhada, animou-se. Escolheu uma tulipa cor de fogo e uma castanha cristalizada e, esperançoso, ofereceu-as a ela. Alta, loira, ágil e atlética como devia ser uma tauta, rosto jovial e olhos vivazes que faziam pensar num céu azul cortado por relâmpagos. Ela sorriu, aceitou o doce, prendeu a flor no cabelo curto e lhe deu o braço para acompanhá-lo numa dança folclórica, como se esperava de uma moça bem educada. Mas foi só: o costume não lhe exigia que continuasse a segui-lo depois de terminada uma música. Fugiu de seu beijo e de suas mãos ansiosas e se despediu com uma reverência.
Ele tentou segui-la em busca de uma segunda chance e a viu tomar a iniciativa de convidar um rapaz recém-chegado, um que ele conhecia como dos mais incompetentes do pelotão, filho de pais sem brilho, mas com muita sorte com as mulheres e em particular Madhavi, com a qual já o vira no feriado anterior. Sentiu-se humilhado, mortificado. Que diabos podia ter o babaca do Pandu que ele não tinha? Sequer era especialmente bonito, ao menos na opinião de Vasu.
Lúsia de Calípolis, cujo nome significa “libertadora” em sua língua, é uma acaia da casta dos guardiães, encarregados do governo e defesa de sua pátria. Apesar de não ter se qualificado como futura arconte, ou integrante da cúpula do Estado, é muito respeitada pelos seus companheiros pela força, inteligência e majestosa beleza.
Como os seus mais de vinte mil irmãos e companheiros de Pótnias Calípolis, Lúsia recebeu uma sólida educação moral e cívica e é uma mulher madura, experiente e responsável, à qual é regularmente confiado o comando militar da importante caravana anual da cidade a Manova, extremamente importante para a diplomacia e comércio de sua pátria. Mesmo assim, apaixonou-se perdidamente por Tlalpan, pela qual está disposta a tudo. Algumas linhas sobre como a jovem atlante a vê:
Lúsia me levou aos jogos, concursos e danças do primeiro dia das Antestérias, a festa da primavera de Acaia dedicada a Oraios, deus da música e da harmonia e Nisa, deusa da dança e da embriaguez. Eu adorei e nem achei ruim ela me exibir por ali como uma conquista, mas quando ela começou a acompanhar seus camaradas na bebedeira, eu a avisei de que voltaria para casa sozinha se ela exagerasse, porque bebo pouco e não suporto gente embriagada. Apesar dos protestos dos amigos, ela se despediu depois de dois ou três copos de vinho misturado com água e acabamos a noite no meu apartamentinho alugado no bairro Cerâmico. Dei o melhor de mim para ela não se arrepender do sacrifício, que sei ter sido difícil para ela.
– Tlalpan querida, o que é isso na sua parede? – quis saber Lúsia, ao admirar de pé meu afresco em cores vivas, de pirâmides, mercados e gente se divertindo nas ruas. – Foi você quem pintou?
– Sim, são cenas de Atlântis, a minha terra – respondi, reclinada na cama.
– Atlântis ou Atlântida?
– Chamamos a capital de Atlântis e o país de Atlântida.
Eu me divertia com a curiosidade dela tanto quanto admirava sua beleza na força da idade, imponente e vigorosa. Tomara que eu seja assim bela quando chegar à sua idade. Não que eu exija perfeição física dos meus amores de qualquer sexo, mas quando ela existe, sei apreciá-la. Admiro também belezas mais jovens ou voluptuosas, mas o dela é um tipo mais incomum e interessante. À luz da manhã filtrada pela janela do quarto, seu corpo parecia a estátua de ouro de uma deusa da guerra e da sabedoria como a própria Pótnia, padroeira da cidade.
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