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Monstros Gigantes – Kaiju: Como escrevi “Memórias de Lisboa”

Lisboa é uma cidade especial. A luz e o rio e as marés humanas e aquela sensação incomparável de estar num sítio incrivelmente antigo e incrivelmente vivo. É a capital da minha vida; não sei descrevê-la melhor. Talvez por isso me dê tanto gozo destruí-la – às vezes é através deste tipo de exercício mórbido da imaginação que damos valor ao que temos.

A história é simples – um monstro lembra-se de se levantar do fundo do Tejo e visitar a cidade, talvez com demasiado entusiasmo. Não sou muito fã de kaijus no geral (que se livrem de me aparecer à porta!) e não me lembro muito bem de escrever este conto, mas sei que nessa altura andava a ler Os Detectives Selvagens, de Roberto Bolaño (como é possível um livro ser tão bom?) e essa experiência foi direcionada para as Memórias de Lisboa. A ideia era aproveitar a forma fragmentária desse livro e contar a história através dos testemunhos de quem sobreviveu à tragédia, formando uma espécie de museu humano; quis fugir à ideia dos heróis de ação relutantes (mas só quando dá jeito) que acabam por matar o monstro e salvar a cidade, e em vez disso procurar a voz de quem simplesmente fez o possível para sobreviver. Quanto à prosa, não sou nenhum Bolaño e nunca conseguirei sequer aproximar-me da magia dele, mas não resisti a tentar homenageá-lo o melhor que pude.

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Não vou entrar em mais detalhes sobre o conto, para não o spoilar, mas diverti-me bastante a imaginar as personagens. No final fiquei com um texto com quase o dobro do tamanho permitido para participar na antologia, pelo que algumas personagens ficaram de fora; tive que cortar, entre outros, a avozinha que apenas ouve a tragédia na rádio e diz para consigo que no tempo dela não havia cá destas coisas, o sobrevivente que tenta a todo o custo recuperar o contato com a família e só anos mais tarde encontra o seu nome num memorial, a equipa de televisão que aproveita o apocalipse para se despir (etc.) em directo para o país inteiro, o coleccionador que não para de pedir ao entrevistador para não lhe mexer nos móveis e nos Picassos (tudo tesouros pilhados durante o pânico da invasão)… não consegui fazer tudo resultar – as histórias que ficaram talvez sejam as mais representativas do que seria estar subitamente à sombra de uma criatura digna do Adamastor. O monstro, coitado, foi relegado para segundo plano, mas não se pode queixar, que ainda se divertiu bastante.

Espero que vocês se divirtam também. Que Ctulhu esteja convosco.

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