Uma das maiores alegrias de um autor é encontrar o público para os seus textos, e quando o que escreve é publicado no exterior, tudo fica ainda melhor.
O conto “Auto de Extermínio” de Cirilo S. Lemos, autor de “O Alienado“, foi publicado originalmente na “Dieselpunk: Arquivos confidenciais de uma bela época“, e agora fará parte da coletânea estadunidense “The Mammoth Book of Dieselpunk” (confira a lista completa de contos aqui). Traduzido para o inglês pelo texano mais brasileiro do mundo, Christopher Kastensmidt, a versão em inglês se chamará “Act of Extermination”.
Christopher já participa de várias coletâneas no Brasil, como a nossa Brasil Fantástico, e é um exemplo interessante de um estrangeiro que tem investido em publicar ficção no Brasil, justamente quando vários autores nacionais de ficção especulativa têm encontrado espaço no exterior para os seus materiais com sotaque brazuca.
Conversamos com os dois autores para sabermos um pouco mais sobre os seus trabalhos e a experiência dessa parceria.
Draco: Auto do Extermínio é um dos contos mais elogiados da nossa coletânea “Dieselpunk”. Esse universo parece muito rico, teremos mais coisas dele como em “Excalibur”?
Cirilo: Na verdade, sim. Entre “Auto do Extermínio” e “O Rei às Margens do Rio” (publicada em “Excalibur”) há uma história intitulada “Deuteronômio Trovão e a Tenebrosa Trindade do Mal”, que se passa no Rio de Janeiro ocupado pelos fuzileiros americanos após nosso governo ter optado por apoiar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Essa noveleta deve sair em breve em uma coletânea chamada “PULP!”, inspirada na literatura, adivinhe só, pulp. Há uma novela também, que fecha essa série de contos com espectro político e prepara o terreno para uma história maior da família Trovão. Há planos também para o Anel de Aviz. Gosto de ver esses personagens sofrendo.
Draco: Fale um pouco desse seu universo que é um Brasil alternativo e o que o inspirou para criá-lo.
Cirilo: O cenário onde ocorrem as desventuras da família Trovão é uma Baixada Fluminense alternativa na década de 1930-1950, onde o Império atravessou um terço do século XX. Ali a tecnologia é mais avançada, temos computadores com cartões perfurados, armaduras de batalha, supersoldados, carros envenenados, mochilas a jato, paranormalidade, ciência louca, pin-ups, guerras mundiais e uma política polarizada entre Direita e Esquerda, ambas dispostas a coisas bem desagradáveis. Tudo industrial, tudo baseado no diesel, no óleo e na fumaça. Por esse lugar perambula Jerônimo Trovão, um matador assombrado pelas visões de uma Santa, e seus filhos Nômio e Levi. A paisagem meio que cresceu ao redor do conto quando eu rascunhava as ideias para enviar para “Dieselpunk”, e muito vem da história da minha própria região, que tem um belo histórico de relação entre política coronelista e grupos de extermínio.
Draco: O que os leitores que curtiram “O Alienado” podem esperar quando falamos de ficção longa? Temos visto contos seus, mas e os romances?
Cirilo: Bom, os romances vêm aí. Gastei uns sete anos escrevendo “O Alienado”, mas prometo que o segundo não levará tanto tempo. Ele se chama “Matadores Mortos” e é a “história maior” da pergunta número 1. Antes dele, porém, temos “E de Extermínio”, que é um romance fix up dentro desse universo e uma coletânea de contos chamada “Mundos Portáteis”. Nada de sete anos, dedos cruzados.
Noveleta finalista do Prêmio Argos 2012. Do autor de O Alienado. É um século novo e terrível. Instabilidades políticas empurram o país para o caos. Após chacinar um grupo de integralistas, Jerônimo Trovão, influenciado pela visão de uma Santa, teme ter escolhido péssimos parceiros de negócios. Agora ele se vê preso numa teia de clones, experimentos militares, ideologias e paranormalidade.
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Draco: Você é estadunidense e mesmo assim tem uma atuação muito legal como ficcionista que explora os temas brasileiros. Como é trabalhar com um texto tão brasileiro como o do Cirilo S. Lemos, queríamos entender um pouco do processo de tradução.
Christopher: Gosto de dizer que “Auto de extermínio” é o tipo de história que só podia ser escrita por um brasileiro. Além de ser uma história alternativa, onde o império brasileiro prolonga-se ao século XX na figura de Dom Pedro III, o Cirilo faz um tratamento dos temas abordados que não consigo imaginar sendo feito por alguém de fora. Este conto mistura assassinos, comunistas, fascistas, imperialistas, militares, soldados robóticos, um herdeiro fertilizado in vitro e a interferência do governo norte-americano. O que é mera alteração histórica para o brasileiro vira uma obra espantosa de fantasia para os leitores de outros países.
Mesmo com toda esta complexidade, o texto é tão bem escrito que o leitor não precisa fazer curso de história brasileira para entender a trama. Este é um conto profundo, com personagens envolventes, conflitos complexos e cenas emocionantes de ação. Cirilo é um dos grandes autores nacionais de literatura fantástica, e foi um verdadeiro prazer poder ajudar a levar para fora do país esta obra maravilhosa dele.
Draco: A nossa Dieselpunk foi uma das primeiras antologias sobre esse recorte retrofuturista no mundo. Achamos ótimo que uma antologia estrangeira da mesma temática se interesse por textos brasileiros. Como foi esse interesse?
Christopher: Achei excelente a atitude do organizador, Sean Wallace, a buscar contos estrangeiros para colocar no livro. Muitos editores dizem que querem mais diversidade, mas na hora de publicar, acabam escolhendo sempre as mesmas histórias dos mesmos autores. Na chamada original desta antologia, o Sean escreveu: “quero material do mundo inteiro, não quero uma representação ‘branqueada’ do tema”. E ele foi muito além disso. Quando viu que tinha uma antologia Dieselpunk publicada no Brasil, ele entrou em contato comigo para pedir uma indicação. Que mais editores adotem esta atitude!
Conto finalista do Prêmio Argos 2014. O jovem Tiago brinca inocentemente com os amigos com jogos de cartas de RPG. Mal sabia ele, que seria convidado para fazer parte da comissão técnica da Seleção Brasileira na Copa dos Mitos. Curupira, Anhangá, o Boi-tatá e até a Noiva de Branco enfrentarão Thor e Odin pelo time da seleção Norueguesa num jogo de vida e morte.
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O que posso dizer? Dragons rising. Parabéns, Cirilo, e muito sucesso, sempre!
Obrigado, Ana.