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[Top 5] A Ilha dos Ossos, por Ana Lúcia Merege

ilha

Há pouco menos de dois anos fiz a lista das “Top 5” influências que permeavam “O Castelo das Águias”, primeiro livro de uma série de fantasia para jovens adultos. Os itens eram poucos, mas havia muito a dizer, porque na verdade eu não estava pensando apenas no livro e sim em algo mais complexo: o universo de Athelgard, com toda a diversidade de cenários e personagens. Essas macro-influências, por assim dizer, estarão presentes em toda a série; o leitor pode conferir aqui: (http://blog.editoradraco.com/2012/10/top-5-ana-lucia-merege/).

Agora venho falar um pouco sobre as coisas que inspiraram especificamente o segundo livro, “A Ilha dos Ossos”. Este é bem diferente do primeiro: além de não ter sua ação restrita ao Castelo, é narrado por outro personagem e contém mais aventura do que romance. Por outro lado, o background do casal de protagonistas continua a ser o mesmo, portanto as influências maiores ainda estão valendo; as que se seguem são incidentais, à exceção da primeira, uma vez que a região será revisitada em contos e livros futuros.

1. Máximo Górki e outros autores russos

GORKI

O Oeste de Athelgard foi em boa parte construído com base nas tradições dos russos, dos eslavos e de povos da Europa Central e oriental. Lá, as aldeias e cidades estão sob o domínio de famílias com sobrenomes como Andraev e Vannovich, a servidão existe como instituição e os doces são feitos de beterraba. J Para criar essa cultura, eu evoquei a bagagem que veio principalmente dos livros de Górki (1868 – 1936), um de meus autores favoritos. Górki teve uma infância e adolescência muito pobres, conviveu de perto com a as dificuldades dos camponeses, operários e trabalhadores itinerantes na Rússia czarista e soube narrá-las de forma vívida e sensível em seus contos e romances. Também houve influência de outros escritores, que retrataram o cotidiano dos mujiques (camponeses russos), os desmandos dos senhores, a estupidez dos pequenos funcionários… Claro que estou falando de um universo puramente ficcional, trata-se de uma inspiração muito diluída, mas ela está lá. Pelo menos volta à mente sempre que escrevo sobre o Oeste.

2. I´d do anything for love

MEAT LOAF

Desde antes de escrever a primeira versão de “A Ilha dos Ossos”, eu pensava nessa música como o “tema” de Anna e Kieran. A declaração de amor de alguém cuja vocação é ser solitário – um monstro, um proscrito, um vampiro – expressa com vigor e o desespero no vozeirão de Meat Loaf era o Kieran falando. De certa forma, a declaração “farei tudo por amor, mas isso eu não farei” foi o que inspirou o conflito que desencadeia a trama do livro: eu não precisei pensar muito para descobrir o que o mago se recusava ou prometia não fazer. E ao longo do romance ele lamenta amargamente a sua promessa.

3. Piratas

PIRATAS

Ao pensar no roteiro, tive a ideia de usar piratas como vilões; além de ser adequado para a trama, essa seria uma boa mudança da rotina de escrever sobre nobres impiedosos e magos sem escrúpulos (não se preocupem, nos próximos livros eles voltam). Decidi logo de cara que não seriam corsários, mas sim piratas medievais, nada glamurosos, que faziam pilhagem em aldeias e raptavam pessoas para vendê-las como escravas. Apesar disso, trabalhei com a ideia de que havia certas “leis” usadas entre os piratas, não um “Código dos Mares” ou coisa parecida, mas um conjunto de regras dentro das quais eles atuavam e mantinham a ordem e a hierarquia. Para criar Nestorian e seus homens, segui a inspiração dos autores de livros como “Moby Dick” e “A Ilha do Tesouro: misturei pessoas provenientes de mais de uma região e emprestei a algumas delas características bem marcantes, pelas quais se distinguissem logo de cara. Tostig é o sanguinário, Rumen é o desconfiado, Dusan é o velho que conhece as regras e por aí vai. Já o capitão Nestorian é um pouco mais complexo, com traços que às vezes se complementam e às vezes quase se contradizem. Ele é cruel com os prisioneiros, mas adotou dois garotos que ninguém queria e é justo com seus homens; é crédulo ao ponto de acreditar em tudo que diz uma profetisa, mas não cessa de ameaçá-la caso não diga o que ele quer ouvir, de forma a criar ele mesmo a mentira em que se vê enredado através das palavras dela. Não tenho simpatia pelo personagem, mas entre os primeiros leitores já houve gente encontrando nele algumas qualidades, ou pelo menos algo que o torna interessante. Espero que mais pessoas vejam isso no meu vilão.

4. Drácula

DRACULA

Ao decidir que este livro narraria uma jornada de Kieran e que ele passaria pelas terras dos Vannovich – aos quais eu já tinha dado fama de vampiros – resolvi que devia ter um na trama, e um daqueles bem tradicionais, impiedosos e hediondos. Minha inspiração para o Karel foi o Drácula de Bram Stoker, especialmente a caracterização dele como um nobre já idoso no filme de 1992 (papel de Gary Oldman). Karel é um personagem importante para toda a série e já apareceu no conto A Voz do Sangue, publicado em e-book nos Contos do Dragão. E o que acontece nesse segundo livro terá uma grande repercussão no próximo.

5. A ideia de quest

JORNADA

Nunca joguei RPG, mas muitas pessoas acham que o universo de Athelgard é ótimo para isso, então vamos lá: o livro narra uma espécie de quest, como vemos nos jogos. Descontados os capítulos iniciais, ele transcorre durante o tempo de uma viagem, na qual, a partir de pistas incertas e com a ajuda de vários e improváveis aliados, Kieran vai reconstituindo a jornada de Anna e chegando mais perto de cumprir a missão que se impôs. Assim como acontece com outros viajantes, da vida real e da literatura fantástica, a jornada de Kieran se dá em dois níveis: a viagem propriamente dita pelas terras do Oeste e o reencontro consigo mesmo, ao se confrontar com situações que evocam as de seu passado e que ele não parece ter superado muito bem. Anna, por sua vez, faz uma viagem rumo ao amadurecimento e toma contato com aspectos de sua personalidade que ela desconhecia e que nem sempre lhe agradam, mas que ela deve assumir para se tornar alguém pleno, responsável pelos seus atos e capaz de ajudar a quem precisa.  É assim que ambos se preparam para uma próxima etapa em suas vidas… e para as peripécias que os aguardam no terceiro livro da série.

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A Ilha dos Ossos

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0 Comments

  1. Liége disse:

    Estou lendo A ilha dos Ossos e amando! Já estou viajando pelo Oeste com o Kieran, vi o Karel e parece que estou perto de conhecer o Nestorian. Muito legal saber um pouco mais sobre as inspirações para esse livro, Anna. E essa música é a cara do Kieran mesmo :DDD. Confesso que estou com dó dele por conta da promessa que fez. Como a Karen disse na resenha dela, ele não “desce do salto” XD, mas a gente percebe a arrependimento que ele sente nas poucas vezes que fala sobre isso.