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Boy’s Love: para gostar de histórias de amor sem preconceito, por Tanko Chan

boys_lovePara quem não me conhece, eu sou a Tanko, ilustradora profissional e uma grande fã de animes, mangás e claro, do gênero japonês conhecido como “boy’s love” ou, mais popularmente, yaoi.

O boy’s love engloba várias mídias, como quadrinhos (mangá), animações (anime), filmes e jogos, e trata de histórias homoeróticas e homoromânticas entre rapazes. Mas ao contrário do que se pode pensar, é um material vendido para um público primariamente feminino; quase que invariavelmente focado no relacionamento de um par protagonista e engloba histórias que vão desde intrincadas séries dramáticas e romances açucarados a oneshots curtos e eróticos.

Como os japoneses diriam, eu sou uma fujoshi: traduzindo ao pé da letra, uma “garota podre”, ou na minha própria interpretação do termo, “moça da mente poluída”. Esse apelido autodepreciativo foi alegremente adotado pelas garotas que curtem o amor entre rapazes, para se referir justamente à nossa mania de ver esse mesmo “amor entre rapazes” em toda a mídia que consumimos. Sim, eu sei, é um hábito controverso, mas foi com ele que começou toda essa história.

Se voltarmos um pouco no tempo, aos anos 1970, veríamos como duas das maiores pioneiras do mangá boy’s love no Japão, Hagio Moto e Keiko Takemiya foram influenciadas por uma amiga, que não era artista, mas que apresentou às duas a revista gay Barazoku e o filme homoromântico francês Les Amitiés Particuliers. E da paixão pelo tema, apresentado por essa amiga que provavelmente foi a primeira fujoshi per se, surgiram os primeiros boy’s love nas páginas das revistas femininas, histórias com fortes dramas psicológicos passadas em internatos no século XIX. Tramas distantes da realidade das moças japonesas, que podiam embarcar sem culpa nos prazeres e dores dos jovens e andróginos protagonistas.

Como todas as invenções humanas, o boy’s love como conhecemos não nasceu de um dia para o outro. Takemiya levou anos para convencer seu editor a publicar o célebre “Kaze to Ki no Uta”, por exemplo. Mas o BL caiu no gosto das leitoras, ganhou fãs.

Por coincidência, ou não, reza a lenda que foi justamente de um grupo de estudos sobre Hagio Moto que surgiu a maior – e talvez mais feminina – feira de fanzines do mundo, a Comiket.

Neste mesmo evento, um passante incauto nos anos 1980 poderia ter visto o BOOM do boy’s love e o recém-criado termo YAOI (Yama-nashi, ochi-nashi, imi-nashi – sem clímax, sem objetivo, sem sentido) que descrevia as paródias eróticas que tomavam emprestado os personagens das mais populares séries japonesas.

Estes irreverentes artistas de fanzine, principalmente mulheres, se profissionalizaram e começaram a compor as equipes de revistas famosas. Hoje, o boy’s love é um gênero ainda de nicho, mas que tem dezenas de revistas próprias, animes, jogos, enfim, um mercado que movimenta bastante dinheiro.

Com o advento da internet, o boy’s love ganhou fãs pelo mundo e o Brasil não foi exceção. Praticamente qualquer fã de anime e mangá sabe o que é “yaoi” e tivemos dois títulos do gênero publicados em português (“Gravitation” e Blood Honey”).

arte-(10)No entanto, o público brasileiro ainda é muito carente de material boy’s love. A maior parte dos fãs precisa apelar para a leitura de traduções alternativas online ou para a cara importação de mangás em inglês. Esta carência talvez tenha sido o motivo pelo qual se criou um grande envolvimento por parte dos fãs com os chamados fics (abreviatura de fictions), contos originais ou baseados em tramas e personagens já existentes. Os autores de fics brasileiros muitas vezes são cultuados tanto quanto os artistas japoneses.

Quando o Erick Sama me convidou para organizar a Coletânea Boy’s Love eu fiquei imensamente honrada – e surpresa. Eu sou uma fujoshi, lembram? E sou uma fujoshi que acredita no potencial dos autores nacionais (e lusófonos) e na mistura deste conceito oriental com gosto ocidental. Acredito que sim, nós fãs somos capazes de criar nossas próprias histórias!

Embora não seja o primeiro livro a abordar a homossexualidade na literatura especulativa, acredito que seja a primeira coletânea inspirada no gênero e dedicado especialmente para este público.

Falando em “primeira vez”, foi a minha primeira seleção e logo percebi que é um processo muito gratificante e ao mesmo tempo doloroso. Busquei contos que não tivessem apenas uma bela história de amor, mas também aqueles que construíram uma ambientação fantástica encantadora, que acrescentasse à narrativa e não ficasse ali, apenas como um adorno ou pano de fundo. Fiz o máximo para apresentar histórias com variados desdobramentos e “sabores”, de modo a oferecer aos leitores um pequeno recorte das possibilidades do boy’s love.

Foi notável a dedicação dos que enviaram seus contos para este projeto e a julgar pelo feedback recebido dos mesmos, além de escritores-fãs debutando no cenário da literatura e escritores já conhecidos pelos leitores de fanfics, vários autores se aventuraram a trabalhar com o tema apenas para participar da seleção. Acredito que neste aspecto, também tivemos de tudo um pouco, diferentes estilos e visões.

Neste momento em que a diversidade sexual começa a aparecer na grande mídia, ainda meio tímida, ainda mais “polêmica” do que gostaríamos, apresentamos uma coletânea com romances que transcendem algumas barreiras do convencional.

Esperamos que possam embarcar conosco nesse livro, que, usando a frase mais clichê possível, quer seja fujoshi, fudanshi, ou mesmo um leitor novo, quem sabe, alguém que goste de histórias de amor sem preconceito…

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0 Comments

  1. Melissa de Sá disse:

    Ótimo texto.

    Eu sou uma das autoras que escreveu o conto especialmente para o livro, porque achei a temática interessante e me senti atraída por ela. Conhecia boy’s love por conta de fanfics, uma pesquisadora da minha faculdade estudou o gênero em fanfics de séries (dentre elas House e Star Trek). Sabia que era um gênero escrito e lido predominantemente por mulheres, mas não sabia quase nada dessa origem japonesa (apenas o basicão).

    Achei que o texto explicou de uma forma bastante lúcida o contexto dessas histórias. Fico feliz por ser parte desse projeto da Draco, que trouxe o tema numa antologia tão bacana. Mal posso esperar para ter o livro em mãos!

  2. Ana Lúcia Merege disse:

    O livro está ótimo e desejo a você muito sucesso!