Super-Heróis: Um bate-papo com Dennis Vinicius, autor de “A última aventura do Pardal Mecânico”
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Super-Heróis: Um bate-papo com Inês Montenegro, autora de “Pela Terceira Idade”
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Super-Heróis: Um bate-papo com Luiz Felipe Vasques, autor de “O Grande Golias”

— Grande Golias? — O homem perguntou num tom simpático.

 

Do lado de fora da tenda principal, Demétrio distribuía autógrafos, cercado por um grupo de crianças. Semiletrado, desenhava o nome. Era bom para a prática, diziam. Já não se constrangia mais.

 

— O próprio. — Respondeu, sem se virar, atento à criançada. — É pra quem?

 

Uma carteira oficial apareceu na sua frente. Demétrio não conseguiu saber o que era, mas a atitude era típica de autoridade. Resolveu aprumar-se. Os pais começaram a puxar seus filhos dali, em todo caso. Sem que pedissem, tinham uma certa privacidade, salvo por dois colegas de circo mais corajosos. O que puxara a carteira era o mais alto dos dois, encorpado para gordo, olhos miúdos, cabelos claros, crespos. Alto para a média do brasileiro, ainda assim olhava para cima ao falar com o mestiço de pele escura.

 

— Meu nome é Lourival Fagundes Filho e esse é meu colega, Pascoal Motta. Representamos o governo federal e gostaríamos de ter uma palavrinha com o senhor. O que o senhor me diz de ajudar o Brasil contra o perigo nazifascista?

 

Ali ao lado de Turíbio, Maria notou a cara espanto do grandalhão e lhe bateu no cotovelo.

 

— É a guerra, Demétrio. Querem levar você pra Europa!

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O que você curte nos super-heróis?

O sentido da aventura. Primeiramente isso. Super-heróis é um gênero irmão da ficção científica, que adoro, e não raro dá pra ver a influência desta no outro. Depois as temáticas, envolvendo sacrifício, amizade, sempre com inimigos memoráveis, lugares e épocas fascinantes…

Como foi escrever para uma coletânea sobre super-heróis, mas tendo essa questão da identificação luso-brasileira?

Meio um desafio para mim. Há todo um discurso muito bem embasado que trata do super-herói como sendo um veículo de propaganda imperialista americana. O.k., eu posso entender isto perfeitamente… e preferir discordar. Acho que há como fazer o super-herói do terceiro mundo, sem nem ser panfletário, nem – o que detesto – paródia do gênero; e muito menos uma colagem direta do correlato americano, apenas modificando as cores da bandeira e pondo nomes em português.

Não é muito diferente da questão da própria ficção científica feita no Brasil, que é “coisa de americano”. Não precisa haver o – termo emprestado do meu querido Carlos Patati – triunfalismo típico dos grandes impérios, e – voltando aos super-heróis – nem precisa ser o discurso do coitadinho para justificar um anti-herói como imagem nacional.

Acho que apenas é necessário duas coisas, em primeiro: reconhecer e levar a sério a viabilidade do gênero como literatura de aventuras feitas e ambientadas aqui ou em Portugal e entender que a ética do super-herói é universal, bastando o coração estar no lugar certo e ter a vontade para agir.

Das ideias que você poderia ter, por que o Grande Golias?

Tudo culpa dos role-playing games.

Eu participava, na época, de uma campanha com o tema de super-heróis, e o Mestre de Jogo resolveu construir uma página do universo da campanha em um serviço no estilo wiki. Eu contribuía criando personagens e tentando dar um sentido histórico até, de supers em épocas anteriores. Quando pensei em algo pelos anos 1940, inevitavelmente a Segunda Guerra Mundial surge, e aí pensei em um super-herói brasileiro que não fosse um Capitão América auriverde (até porque, este é um trabalho para o Bandeirante…), mas que tivesse um jeito de povo, mesmo. Assim, fui pensando em questões que já me acompanhavam, descritas na resposta anterior. E o resultado é esta noveleta.

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