O dragão não era como ele esperava, um animal criado diretamente pelos deuses, tão belo e perfeito como a melhor das criaturas e capaz de inspirar a mais pura e sincera admiração. A besta que tinha à sua frente era feia e desproporcional, como um erro da natureza, e mais que qualquer sentimento positivo inspirava apenas medo e repulsa. E no entanto exercia sobre ele um fascínio incompreensível. As criaturas das histórias e das lendas eram mais atraentes, sem dúvida, mas eram fumo e ilusões. Este era real. Este era mais de uma tonelada de carne, osso e músculo. Havia litros de sangue dentro daquele corpo a serem bombeados a cada segundo. Havia uma boca capaz de rasgar um homem ao meio como se fosse um pedaço de pergaminho. Havia força, e fúria, e ele não conseguia deixar de olhar. Mesmo quando o via esforçar as correntes para chegar mais perto de si, mesmo quando via aqueles enormes maxilares fecharem-se a menos de um metro da sua cara, mesmo quando sentia o seu ódio arder com uma intensidade quase palpável.
Escrever sobre dragões foi uma proposta irresistível e também intimidadora. Por um lado eles são possivelmente o ícone máximo da fantasia, a derradeira criatura fantástica que assombra os nossos pesadelos e consome a nossa imaginação. Por outro lado já se escreveram muitas histórias sobre eles. Muitas, muitas, muitas.
Assim sendo, o que poderia eu oferecer aos leitores que eles não tivessem lido antes?
Comecei pelos mesmos princípios com que abordo todas as minhas histórias. Não gosto de magia, portanto os meus dragões seriam apenas animais de carne e osso, sem qualquer atributo fantástico ou maravilhoso.
Também não gosto de moralidades simplistas e demasiado bem definidas, assentes no na típica dualidade bem/mal, muito menos quando aplicadas a animais, portanto lá se foram os dragões valentes e os dragões maléficos. Sobraram apenas bichos, que fazem o que têm de fazer, sem qualquer juízo de valor associado. Esse papel cabe aos humanos que com eles habitam. E aos que lerem a história.
Por último, gosto de pincelar os meus contos com bastante tinta vermelha, pelo que teria de haver sangue em quantidades razoáveis e possivelmente alguns falecimentos.
Diz-se que todos os escritores absorvem algo das suas leituras, e um escritor jovem então deve bebê-las como uma esponja. E eu havia lido uma dose dupla de Jack London sob a forma dos clássicos Call of the Wild e White Fang, e este último, sobretudo, foi uma inspiração clara para o estilo de escrita que empreguei neste conto, sobretudo nos momentos contados pela perspectiva do dragão.
Escrito o conto – literalmente em cima da hora, foi enviado já depois da meia-noite do último dia mas graças à diferença de fuso horário parece que ainda chegou a tempo – faltava escolher um nome, uma tarefa sempre difícil para mim. Movido pela pressão do tempo, não estive com meias medidas e roubei descaradamente o título de um velho jogo de computador que adoro, adicionando apenas uma letra para o diferenciar. Dizem que a imitação é o maior elogio, portanto de certa maneira até que fui um cara legal.
Você pode baixar o conto em formato e-book na sua loja preferida, acesse a hotpage: http://editoradraco.com/2013/01/04/dragoes-drakkan-nuno-almeida/.
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