Dragões: Escrevendo “Salve Jorge”, André S. Silva
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Dragões: Escrevendo “Operação rastro rubro”, Ana Carolina Pereira
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Dragões: Escrevendo “Coronel Mostarda”, Flávio Medeiros Jr.

Gnomos, fadas e ninfas são bem-vindos”, dizia a tabuleta à entrada da propriedade. Charles Wolfman estreitou os olhos, espreitando as sombras da manhã, que desenhavam um caleidoscópio verde e negro na mata dos dois lados da estrada. Farejou o vento e, intrigado, torceu o nariz. Não se desprezava facilmente um convite daqueles. A geografia da região era bem favorável. Entretanto, ele não farejava absolutamente nada de cravo e rosas selvagens. Mesmo o cheiro de jasmim só era perceptível graças ao seu olfato treinado.

 

Wolfman anotou o fato num canto da memória. Recostou-se no assento e fechou o vidro elétrico, observando o motorista manobrar o automóvel pelo pátio amplo, diante da entrada principal da mansão. Estacionou junto à fonte central, cujo sussurro tranquilizador contrastava com o cheiro que Wolfman sentia derramar-se do prédio, escorrendo pelos degraus da escadaria: cheiro de medo.

 

Desceu do carro amaldiçoando o nó da gravata. Detestava usar terno, mas sua profissão o exigia. No fundo, concordava que contribuía também para suavizar a impressão causada por sua figura rústica, a mandíbula sólida e proeminente coberta pela barba curta e cerrada, as costeletas amplas e revoltas, o cabelo negro e grosso penteado para trás e espetado na nuca, como uma crina de hiena.

 

Wolfman olhou para o final da estrada de cascalho, que sua viatura acabara de percorrer. Dois encapuzados caminhavam lentamente das margens até o centro da passagem, murmurando cânticos em voz baixa e despejando no chão uma linha de pó escuro, que retiravam de um saco de pano. Não conseguiu reprimir um rosnado baixo. Detestava sentir-se confinado, isso estava gravado na parte inexorável de sua natureza.

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Assim começa a noveleta “Coronel Mostarda”. Logo no início, o leitor não deixará de notar minha dedicatória: “Para Borges”. Não poderia deixar de ser. Eu estava mergulhado na leitura do “Livro dos Seres Imaginários”, de Jorge Luis Borges, quando a história publicada na antologia “Dragões” simplesmente saltou das páginas e agarrou minha cabeça, como aquele hospedeiro aracnídeo do filme Alien. Então era tarde demais para mim.

Por causa disso, o leitor observará também que todas as criaturas fantásticas que figuram na história tiveram seus perfis respeitados a partir das descrições que Borges faz em seu livro. O ponto central da trama gira, precisamente, sobre a excepcional capacidade metamórfica dos dragões.

Um magnata polêmico é encontrado assassinado de maneira brutal em sua mansão, localizada na Serra do Cipó, interior de Minas Gerais. A casa é isolada pela polícia e o Inspetor Charles Wolfman é chamado para comandar a investigação. Seu braço direito será o Policial Lobato. A questão é que, ao que tudo indica, a vítima foi morta por um dragão, escravizado por ela por vias místicas. Nesse mundo ficcional, criaturas fantásticas e seres humanos normais dividem o mundo simultaneamente, de forma clara e aberta. É óbvio que o preconceito de ambas as partes gera uma linha de atrito e tensão delicada, e essa tensão terá de ser administrada pelos investigadores. Afinal, a vítima é um humano; Wolfman é um licantropo; Lobato é um saci.

Qualquer uma das pessoas presentes na casa, entre funcionários e familiares, pode ser o assassino. Qualquer um deles pode ser o dragão disfarçado. Por isso a investigação adquire semelhança com “Detetive”, o antigo jogo de tabuleiro, onde um assassinato é investigado pelos jogadores nos diversos cômodos de uma mansão, buscando identificar o local, a arma do crime e seu autor, até que o vencedor anuncia: “O assassino foi o Coronel Mostarda, na biblioteca, com o candelabro.”

Conseguirão Wolfman e Lobato desvendar o mistério? Conseguirá você? Leia a história na antologia “Dragões”, e me conte depois.

Você pode baixar o conto em formato e-book na sua loja preferida, acesse a hotpage: http://editoradraco.com/2013/03/21/4374/

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0 Comments

  1. Karen Alvares disse:

    Eu ainda não cheguei ao final do livro, mas apesar disso e apesar da incrível qualidade dessa seleção e dos seus contos, “Coronel Mostarda” ainda é meu favorito. Quando o li, fiquei apaixonada. Acho que talvez muito porque havia um saci, Lobato, e se tem algo que eu adoro são sacis. E toda a trama de investigação foi também incrível. Uma história envolvente do início ao fim.
    Ps.: não descobri o mistério. Sou terrível para essas coisas. ¬¬’