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Excalibur – Escrevendo "O Fio da Espada", Melissa de Sá

O trotar dos cavalos fazia um som opaco na lama. A chuva fina não era suficiente para atrasar a marcha, mas abafara os ânimos. Os gritos de vitória e as canções de heroísmo haviam ficado para trás. Tudo que restara fora o lento arrastar das carroças, o tilintar das espadas sujas, o ruído surdo das armaduras. Dainwin respirou fundo. Seu pai sempre lhe dissera que a alegria de uma vitória de batalha durava pouco mais que o tempo que uma folha de carvalho demorava para se desprender do galho e cair no chão. Agora sabia que era verdade.

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Idylls of the King – Gustave Doré

O primeiro parágrafo flutuou na minha cabeça desde o início: uma daquelas coisas raras quando se escreve. Foi a partir dele que o resto do conto foi se desenvolvendo e a história tomando forma. Daí eu já sabia que seria algo com a temática da guerra e dos códigos de cavalaria, que teria um tom melancólico e até de desencanto, e que o personagem principal não seria ninguém da Távola Redonda.

Com certeza uma grande influência para essa decisão foi a leitura de As Crônicas de Arthur, do Bernard Cornwell, alguns bons anos atrás, que é com certeza uma das minhas séries favoritas (sim, meninas favoritam livros do Cornwell). Eu gosto particularmente desse olhar de alguém que não esteja dentro da trama toda, alguém que seja menor, por assim dizer, e quis radicalizar isso no conto. Foi aí que apareceu o protagonista de “O Fio da Espada”, o escudeiro Dainwin.

Outro fator que ajudou muito foi ouvir o álbum “King Arthur and the Knights of the Round Table”, do Rick Wakeman (e não é que outro dia desses mesmo a Ana Lúcia Merege não comentou dessa pérola no Facebook?). Essas músicas fazem parte da minha vida: me lembro de assistir o VHS – porque somos da época do VHS – do show ao vivo com meu pai. As faixas ficaram no meu inconsciente por muitos anos. “Guinevere” e “Sir Lancelot and the Black Night” me ajudaram a pensar bastante nesses dois personagens que também seriam essenciais no conto, afinal, nessa altura eu já tinha decidido o papel de Dainwin como escudeiro.

Reescrevi várias vezes até chegar no ponto em que o conto está hoje. Isso porque eu queria que “O Fio da Espada” tivesse uma certa atmosfera e eu tive que trabalhar um bocado para construi-la. Para que ficasse algo melancólico, mas não de uma forma óbvia. Me digam depois se consegui. rs

Quanto à mitologia arthuriana, fiz algumas pesquisas (e a variação das grafias dos nomes é de deixar qualquer um louco!) e o conto se passa depois que Lancelot salva Guinevere da Torre de Água de Goirre. Esse é o episódio em que Guinevere é sequestrada por Meleagant e Lancelot a salva. No entanto, a interpretação do ocorrido ainda é minha, então o conto traz um significado novo a isso tudo. E acho que talvez essa tenha sido a grande diversão de escrever “O Fio da Espada”: depois de tantos anos lendo inúmeras versões da história do rei Arthur – quem não ama essa lenda, né? – eu finalmente pude criar um pedacinho desse universo.

Sinceramente? Espero voltar a ele em breve.

Quer ler esse e outros contos da coletânea Excalibur – histórias de reis, magos e távolas redondas? Acesse: http://editoradraco.com/2013/09/02/excalibur-historias-de-reis-magos-e-tavolas-redondas/ e garanta o seu exemplar!

9 Comments

  1. Jéssica de Sá disse:

    Parabéns Mel! Adorei o conto, muito sensível e surpreendente!

  2. Nilton Braga disse:

    Quero ler!

  3. Jacó Galtran disse:

    Parabéns, Melissa.

    Um parágrafo instigante e muito bem escrito. O seu processo de produção também foi bastante interessante e inspirador.

    Lerei com certeza.

  4. Ana Lúcia Merege disse:

    Engraçado, sua voz como escritora nesse conto me lembrou George Martin e não Cornwell. Este é o texto que tem a pegada mais juvenil, junto com o do Pedro Viana, que é o mais jovem dos autores do livro. Tenho certeza de que os leitores gostarão da história e simpatizarão com o escudeiro Dainwin!

    • Melissa de Sá disse:

      Sério, Ana? Engraçado como essas coisas são, né. Inspirações e influências às vezes funcionam de uma forma curiosa.

      Sim, esse texto tem mesmo uma pegada juvenil. Até por ser uma história sobre um jovem um tanto que inocente e sonhador.

  5. Liége disse:

    Que bacana, Melissa. Fiquei ansiosa para ler seu conto. É realmente uma coisa muito legal poder contar a sua visão de lendas e mitos tão icônicos. Ao escrever “O Espelho”, eu também quis imaginar qual teria sido o destino da dama de Shalott…

  6. Karen Alvares disse:

    Mel, tua escrita é sempre impactante, intensa, e vejo isso novamente nesse primeiro parágrafo do seu conto. Achei a ideia toda dessa antologia incrível e admiro demais todos os escritores que a tornaram possível: fico apavorada só de pensar em tentar escrever algo desse universo e olha só vocês todos passeando por esse mundo com habilidade. =)
    Ansiosíssima para ler seu conto e os demais! Parabéns pra todos e para a Draco por mais um livro incrível!

    • Erick Santos Cardoso disse:

      Estamos ansiosos para ouvir você falando do Dama das Ameixas, Karen. 😉

    • Melissa de Sá disse:

      E você sabe que você e Nika foram fundamentais pra arrumar tudo, né? 🙂 Como sempre, minhas revisoras palpiteiras salvadoras da pátria favoritas. Vocês me puxam ao limite e isso faz com que eu melhore sempre.

      Concordo com o Erick: quero saber do processo de escrita de “A Dama das Ameixas”. Eu estava lá no finalzinho, mas não no começo. hahahaha E esse é meu conto seu favorito. Não tem como. Ele entrou no meu coração. * momento brega on *