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Lidia Zuin fala sobre a trilogia REQU13M

A autora Lidia Zuin nos contou um pouco mais sobre a sua nova trilogia cyberpunk, sobre as suas motivações para abordar tecnologia, hackers e o obscuro mundo digital em seus textos. Ela também divulgou um trechinho da história.

Aproveite!

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1) Sobre o que fala a trilogia REQU13M?

A trilogia REQU13M dá sequência ao que já foi iniciado no conto Dies Irae. Isto é, enquanto este parece mais uma cena abrupta, que começa e termina do nada, essas noveletas contam um pouco mais sobre a trajetória da personagem principal, a hacker Lynx.

A primeira noveleta, Deus sonha o homem trata de um episódio em que a protagonista, ainda jovem e não muito experiente, é chamada para realizar um trabalho já como hacker, mas acaba caindo numa armadilha e não consegue distinguir muito bem se está conectada numa simulação ou não. E ela vai se entremeando em vários labirintos e enigmas, sejam eles de imagens, números, pessoas ou mensagens que são passados a ela e que vão retornando nesta ou nas próximas noveletas.

Em ordem cronológica, Dies Irae viria em seguida, mas a novidade está em O Homem sonha a Máquina, que é uma sequência direta do “não-fim” de Dies Irae. Já que alguns resenhistas reclamaram que o conto ficou inacabado, resolvi continuar exatamente daquela cena do carro. Quem leu irá reconhecer o retorno de um personagem tanto de Dies Irae quanto de Deus sonha o homem e é com esse tipo de coisa que eu gosto de brincar: nos detalhes, nas minúcias.

Nessa noveleta, Lynx convive novamente com indivíduo, que a convida para participar de uma investigação de assassinatos que acontecem contra os tecnognósticos, um novo grupo que se insere no universo ficcional.

Já na última noveleta, Lynx se vê sozinha e bastante desconfiada de tudo ao seu redor. Em A Máquina sonha Deus, a hacker passa a viver com as irmãs Pali, Raga e Arati, que tentam a alienar do mundo exterior provendo-lhe de todos os confortos possíveis, porém ela não aceita ficar naquela situação e decide retomar suas investigações, mesmo que escolher a ignorância seja mais seguro para si mesma.

2) Para quem já conhece outras obras suas como Dies Irae encontrará algum paralelo?

Acho que já respondi um pouco disso acima, mas existem muitos paralelos que nem eu mesma achei que fossem acontecer, porque eu não planejei escrever uma continuação.

Na verdade, quando eu fiz o Dies Irae, que foi o primeiro conto que eu escrevi na minha vida, foi porque o JM Trevisan, co-autor do sistema de RPG Tormenta, sugeriu que eu tentasse escrever algo e aí eu fiz isso. Foi totalmente do nada e pura tosqueira, até. Termos como Lord Nirvana ou então fazer o Eichi se tornar Lohanna como cantora de synthpop surgiram totalmente do nada e, depois, tudo foi fazer sentido, inexplicavelmente. Esses dois personagens, por exemplo, reaparecem. Da mesma forma que outras imagens, que podem parecer sem importância, também irão retornar. Talvez um leitor mais atento repare.

3) O que você contaria aos leitores que estão prestes a conhecer o “universo” REQU13M?

Para quem gosta da temática cyberpunk, filosofia e religião, imagino que irão se interessar pelas noveletas. Elas trazem um pouco da simbologia do budismo combinada a demais outras vertentes do pensamento, de modo a pensar sobre o real e o virtual, a vida e a morte a partir da tecnologia. Dei esses três títulos a partir de frases retiradas de um texto que eu gosto muito de um filósofo alemão chamado Dietmar Kamper, do qual também empresto duas das epígrafes das noveletas – cada uma tem a sua.

Sonho, morte, realidade virtual, vida após a morte, viver na máquina, imagens… Para mim, parece que estamos falando quase que da mesma coisa, sabe? E depois de ter estudado esses assuntos na minha iniciação científica, ter entrado em contato com filósofos como o próprio Kamper, Flusser, Belting, Warburg, Morin e outros tantos ao longo da graduação e do mestrado… Não sei. Como já brincaram comigo, eu tenho mania de tentar ensinar até mesmo quando estou escrevendo ficção, mas é que estou meio enjoada de histórias bobinhas, tanto que mal tenho lido ficção – por falta de tempo e por falta de saco pra besteirol. E também fazendo uma paródia com o que Flusser escreveu uma vez… em vez de ser ficção científica, ser ciência fictícia… digo que prefiro que em vez de ficção científica seja ficção filosófica. 🙂

4) Você poderia nos dar um trecho interessante do livro?

Levantou-se. Correu até o banheiro. Encheu as mãos de água e, sobre a pia, lavou o rosto umas três ou quatro vezes seguidas. Tentava evitar o choro, mas o próprio reflexo no espelho a assustava, porque não conseguia se reconhecer. Aquela Lynx emoldurada num retângulo era tão imagem quanto aquela que apoiava os dedos na parede: ambas eram a presença de uma ausência. Todos os objetos, todas as pessoas, todos os acontecimentos: tudo se perdia no abismo das simulações e simulacros. E ela não sabia, não podia calcular, quando (ou se) iria fechar os olhos e acordar em um novo lugar, em um outro mundo emulado. Por enquanto, iria se deitar ao lado daquele homem partido: o lado luminoso da sombra de um rivethead perdido num não-lugar além do tempo, do espaço e da compreensão.

Quer saber mais? Acesse:

  1. Requ13m – Deus sonha o homem
  2. Requ13m – O homem sonha a máquina
  3. Requ13m – A máquina sonha Deus

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