O Top 5 de hoje atravessa o Atlântico, chega nas praias de Portugal e vai bater na porta do tradutor e escritor Jorge Candeias, responsável pela tradução para o português, entre outros, do sucesso A Guerra dos Tronos (A Game of Thrones, transformado em série pela HBO). Mas o Sr. Candeias também é um autor de mão cheia. Pela Draco, publicou no volume 2 da Coleção Imaginários, em Vaporpunk e sua irmã Dieselpunk, e em breve, Erótica Fantástica. Com um imenso dragão roxo na soleira de sua porta, ele não hesitou e gentilmente listou para nós cinco das maiores influências sobre seu trabalho. Confira o resultado:
Jorge Candeias: Estabelecer um Top 5 (ou dez, ou vinte, ou os que sejam) dos livros que mais me influenciaram enquanto criador de histórias é-me quase tão difícil como fazer a quadratura do círculo. Porque acho que um escritor, qualquer escritor, é antes de mais uma esponja, que absorve tudo o que vai lendo, as experiências que vai tendo, de uma forma orgânica, inconsciente, e depois, quando chega a hora de criar, vai buscar isto daqui, aquilo dali, a outra coisinha de acolá e mais milhentas outras vindas de uma infinidade de outros sítios, e com elas faz, desejavelmente, um todo coerente.
O melhor que posso fazer é olhar para aquelas coisas que fui escrevendo quando estava a tatear, em busca de quem sou enquanto pessoa que escreve, a grande maioria das quais está, e estará sempre, inédita, e encontrar paralelismos entre elas e o que lia na altura. Assim sendo…
1. Contos do Gin-Tonic, de Mário-Henrique Leiria
Julgo que os Contos do Gin-Tonic, os seus sucessores, os Novos Contos do Gin e, aliás, o próprio autor Mário-Henrique Leiria, são totalmente desconhecidos do público brasileiro. Mas é pena. Trata-se de contos e alguns poemas, geralmente muito curtos, a transbordar ironia, muitos com uma fortíssima carga de crítica política e social (mais ou menos dissimulada, afinal a maioria foi escrita em tempos de ditadura) e, não raro, utilizando abordagens fantásticas, do surrealismo à FC. Textozinhos ao estilo de Mário-Henrique Leiria contam-se entre as primeiras coisas que escrevi na vida. Ou pelo menos entre as primeiras que não eram completa e irremediavelmente ilegíveis.
Draco: Isso à primeira vista não parece leitura de criança. Que idade tinha você nessa época?
Era adolescente. 13, 14 anos. A revolução portuguesa de 25 de Abril apanhou-me com 8 aninhos acabados de fazer, e toda aquela ebulição política pós-revolucionária de democracia recém-rescoberta, na qual, aliás, os meus pais participavam ativamente, deixou-me muito atento e interessado por este tipo de temas. Muito cedo atingi maturidade política suficiente para compreender e apreciar os textos do Leiria. E fiquei com vontade de fazer coisas parecidas.
Draco: E leituras anteriores? Nunca lhe deram vontade de imitar?
Curiosamente, nem por isso. Agarrei-me aos Irmãos Grimm assim que aprendi a ler, aos 8 já estava mergulhado no Júlio Verne, aos 10 ou 11 fartei-me de ler Enid Blyton, mas nenhuma dessas coisas me deu vontade de escrever. Eram leituras, nada mais. Tal como a BD, principalmente do Astérix; criar BD nunca me atraiu. Mas claro que tudo isso entrou na tal esponja de que falo mais acima. Quem procurar bem, com muita atenção, é possível que encontre ecos dessas primeiras leituras no que tenho escrito. É capaz de haver algo de Verne nos meus contos das passarolas, por exemplo. Mas na época em que mais li Verne, não senti nenhuma vontade fazer “vernices”.
2: A Nebulosa de Andrómeda, de Ivan Efrémov
A Nebulosa de Andrómeda foi, para mim, uma revelação. Já antes tinha lido alguma FC mais moderna do que a de Verne, mas este livro foi o primeiro romance de ficção científica que realmente me fascinou. Mais tarde voltei a lê-lo, e reparei nos seus defeitos, que os tem, mas o Jorge adolescente ficou submerso em maravilhamento. Ainda hoje me lembro de várias cenas e ideias. Os arqueólogos que encontram esqueletos nas estepes da Ásia Central com uma espécie de raios-X tirados por um aparelho autónomo de escavação; a mega-escala do reordenamento da população e das atividades económicas do planeta em geral (que é péssima ideia, diga-se de passagem, mas naquela altura fascinou-me); o trecho passado num planeta de uma estrela que quase não emite luz visível mas onde se desenvolveu uma estranhíssima e ameaçadora vida autóctone, etc. Este livro deu início à minha relação de amor com a ficção científica, que me irá certamente acompanhar até morrer. E também influenciou uns quantos textos muito, muito, muito maus. E teve a grande vantagem de ser russo.
Draco: Vantagem? Como assim?
É que me deixou iconoclasta. Há nos fandoms muita gente convencida de que a única FC do planeta e arredores é a FC americana ou, vá lá, a anglo-americana. E eu, precisamente por me ter apaixonado pelo género com um livro que não pertence ao eixo anglófono, sempre torci fortemente o nariz a essas ideias. Não só sempre torci o nariz como sempre tive uma saudável curiosidade por tudo o que não viesse dos sítios do costume. Um dos meus autores favoritos é Stanislaw Lem, polaco. Também gosto muito dos Irmãos Strugatsky, russos. Gostei imenso do pouco que li de Jean-Pierre Andrevon, francês. E assim que vi livros de escritores lusófonos, primeiro portugueses (o João Aniceto, o Daniel Tércio), mas não muito depois brasileiros (o Bráulio Tavares), longe de torcer automaticamente o nariz, como muita gente faz, corri a comprar.
Draco: E que tal? Se arrependeu?
Bela pergunta, essa. Digamos que o arrependimento ocasional é o preço a pagar por não se percorrer o mesmo caminho de toda a gente. Os leitores aventureiros estão condenados a apanhar de vez em quando grandes banhadas. Mas a verdade é que também já as apanhei ao ler aquilo que os defensores da excecionalidade anglófona na FC recomendam com entusiasmo. Às vezes gostam de coisas que eu só consigo abanar a cabeça e dar estalinhos com a língua. Os gostos desta gente! Tsc tsc. Mas fora de brincadeiras, o que tenho lido de bom vindo de fora dos sítios do costume compensa largamente o mau e o muito mau. E, de resto, até o mau e o muito mau é útil: ensina a não fazer assim. Sempre preferi aprender com os erros dos outros a ter de cometê-los eu. É bem mais confortável.
Draco: mas você não renega a FC anglo-americana, né?
Não, claro. A maior parte dos meus escritores favoritos, aliás, são americanos (Bradbury, LeGuin, Silverberg, Martin, Brunner, etc.) ou ingleses (Wells, Ballard, Wyndham, etc.). Mas tenho de confessar mais curiosidade pelo que se faz fora da anglofonia do que dentro, até por ser tão mais raro encontrar material oriundo de outros sítios. Mais depressa experimento um escritor novo que não seja americano, inglês, australiano, etc. do que se o for. Os anglófonos tendem a levar-me a encolher os ombros: mais um. Os não-anglófonos têm em si a promessa de ser diferentes. Às vezes não são, ou se são é para pior. Mas a promessa está lá, e a promessa gera o interesse. Iconoclasta, lá está.
3. Poesias, de Álvaro de Campos
Na adolescência, depois de passar uma fase em que só lia FC e desprezava tudo o resto, passei por outra de experimentação. Li de tudo um pouco: mainstream, policiais, poesia, duas ou três biografias, etc. Mas olhando para aquilo que fui escrevendo na época, descubro que, de tudo isso, só a poesia realmente me influenciou e, desta, tenho de destacar este livro. Contém, julgo, todos os poemas que o Pessoa escreveu anexando-lhes o heterónimo de Álvaro de Campos, e foi o primeiro livro de poesia de que realmente gostei. A liberdade do verso livre, longe das peias das rimas e das métricas, o entusiasmo do engenheiro pelo mundo, a sua tecnofilia, tudo isso ressoou algures cá dentro. E, claro, fartei-me de fazer poemas do mesmo género. Muito piores que os do Campos, naturalmente.
Draco: e você acha que isso se reflete em sua prosa?
Não sei bem. Talvez sim, talvez não. Nunca intercalei um poema num texto em prosa, por exemplo, como é tão comum os escritores de fantasia fazerem. Mas uma coisa é certa: o que aprendi sobre poesia nessa época tem-me sido bastante útil no meu trabalho de tradutor, precisamente porque o que me tem passado pela mão tem sido principalmente fantasia. Na série do Martin, por exemplo, volta e meia aparecem canções, e lá vai o Jorge desenterrar a veia poética para conseguir adaptá-las à língua portuguesa, preservando o melhor possível não só o significado do original, mas também a métrica e a rima. Afinal, trata-se quase sempre de canções. É suposto conseguir-se cantá-las.
Draco: ah, e tem também os nomes de capítulos em verso em “Só a Morte te Resgata”, sua noveleta no “Dieselpunk”. Teve algum motivo para eles?
Sim, também há isso. Já noutro conto que publiquei numa antologia brasileira (o primeiro, aliás), “Entre a Pureza e o Desejo”, havia algo parecido. A veia poética de vez em quando vem à tona, mas não sei bem se tem sobre a minha prosa mais reflexos do que esses. Digam-me os leitores. Quanto ao motivo para os nomes dos capítulos nessa noveleta, o primeiro ocorreu-me em verso, e pareceu-me certo que os outros também o fossem. Por várias razões. Harmonia no contexto da história é uma delas. Mas a principal terá provavelmente sido outra: para lá do ambiente dieselpunk, de se inserir num cenário mais lato de história alternativa que engloba também a novela “Unidade em Chamas”, esse texto é muito pessoal, e tem tudo a ver com a morte do meu pai. E o meu pai deixou dois livros publicados. Dois livros de poesia, precisamente.
4. Memorial do Convento, de José Saramago
O Memorial do Convento não foi, ao contrário do que acontece com muita gente, o primeiro livro de Saramago que li. Mas foi o primeiro livro saramaguiano de Saramago que li. Antes tinha lido um livro de contos, “Objecto Quase”, com seis histórias que ainda não são bem o Saramago que veio depois, mas já mostravam sinais. Mas foi com o Memorial do Convento que me tornei fã. Ensinou-me uma coisa muito importante: a não desistir de um livro à primeira contrariedade. Achei as primeiras 100 páginas francamente chatas, mas depois mergulhei na história e no estilo muito próprio do autor e quando o livro acabou estava de boca aberta. Passei a ler entusiasticamente tudo o que do Saramago me vinha parar às mãos. E andei com o fantasma do Saramago às costas durante bastante tempo, no que toca à escrita. Escrevi várias saramaguices, e até publiquei um par delas, tanto aí no Brasil, no Somnium, como cá em Portugal, numa revista chamada Aguasfurtadas. Tenho outras. Talvez as publique um dia, depois de uma valente revisão. Ou talvez não.
Draco: em algumas das resenhas de “Unidade em Chamas”, essa influência de Saramago é referida. Concorda com elas?
Sim, é verdade. E concordo. Creio que, de todos os escritores que li e me influenciaram, Saramago é aquele que continua mais presente naquilo que escrevo, apesar de me ter libertado da maior parte do fantasma desde a minha fase saramaguiana. Por outro lado, creio que a maior parte dos resenhistas vai buscar Saramago mais por eu ter escolhido chamar passarolas aos meus dirigíveis do que propriamente por encontrarem muito Saramago no texto propriamente dito. Posso enganar-me, mas foi essa a impressão com que fiquei. Mas esse nome não tem diretamente a ver com Saramago. Sim, em parte é homenagem e reconhecimento de influência. Um tirar de chapéu ao Memorial do Convento. Mas, mais do que isso, é uma indicação do ponto de divergência que usei para essas histórias. No mundo real, as exibições feitas por Bartolomeu de Gusmão perante a corte foram encaradas como simples excentricidades sem qualquer aplicação prática; no meu mundo alternativo, havia alguém com visão no meio de todos aqueles pavões empoados. Com visão e com poder suficiente para gerar uma revolução tecnológica e industrial avant la lettre e noutro país.
5. A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin
Esta é influência moderna, e confesso que nem sei bem se chega a ser influência. Uma coisa é certa: esta série foi para mim uma surpresa em vários sentidos. É que eu sou daquelas pessoas que não gostaram d’O Senhor dos Anéis…
Draco: é mesmo?!
É verdade. Embora tenha gostado do “Hobbit”, achei a trilogia do velho Tolkien bem distante dos meus gostos. Chata, digamo-lo sem rodeios. E além disso, sempre me irritou a mania que a gente da fantasia tem de planear a coisa para trilogia, no mínimo. Achava isso uma mera manobra comercial e, depois de ler algumas dessas séries, parecia-me que todos os escritores que assim agiam não tinham realmente assim tanto para dizer e contar e, basicamente, enchiam chouriços (ou linguiça, no Brasil) para conseguirem cumprir o objetivo. Martin, em especial nos primeiros livros, veio mostrar-me que nem todos. Não conhecia a série antes da Saída de Emergência me ter encarregado da tradução, e fiquei francamente surpreendido tanto com o âmbito monumental daquela história, como com a qualidade da própria escrita, como com a maneira que o Martin tem de fazer com que pormenores, que à primeira vista parecem irrelevantes, palha para encher páginas, se mostrem fundamentais para compreender partes da história que só aparecem dois ou três livros mais tarde. É um domínio da narrativa que me deixa francamente boquiaberto.
Draco: e você acha que te influenciou enquanto escritor?
Não sei bem. Acho que provavelmente ainda é cedo para perceber. Mas sei (ou acho, vá) que desde que enveredei pela carreira de tradutor me tornei melhor escritor. Se isso tem a ver com Martin, se com ter na tradução um exercício regular dos “músculos da escrita” que depois acabará inevitavelmente por ter impacto na obra própria, não sei bem. O futuro o dirá, suponho. Mas achei justo incluir aqui este livro, embora aquele de que mais gostei, em toda a série, tenha sido o terceiro original, “A Storm of Swords”. Entre as edições portuguesas, que como sabem dividem cada volume original em dois, o melhor, para mim, é o sexto, “A Glória dos Traidores”.
Draco: por outro lado, pode garantir que sim, influenciou, pela tal teoria da esponja.
Isso. No fundo, bem vistas as coisas, poderia ter escolhido qualquer dos livros que li na vida para substituir estes cinco. E podia também ter cá posto namoradas, família, amigos, inimigos, gente anónima que passa por mim na rua e nem me olha, os célebres e os nem tanto que me entram em casa via TV e internet, tudo e mais alguma coisa. Tudo faz parte. Para rematar com uma frase saramaguiana, o todo tudo contém. É isso.
Espero que gostem.
Em tempo: Jorge Candeias nos concedeu uma entrevista sobre seu ofício de tradutor. Você pode conferir aqui.
Jorge Candeias é português algarvio e tem desenvolvido nos últimos anos intensa atividade nos meios ligados à FC e ao fantástico dos dois lados do Atlântico (embora mais do lado de lá do que de cá, por óbvias razões logísticas). De momento ganha a vida como tradutor, e já tem no currículo um par de traduções de que se orgulha. Também tem no currículo um pequeno livro,Sa lly, (2002) e contos espalhados por publicações portuguesas, brasileiras, inglesas e argentinas, em papel e em bits.
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Bom, não gostar de O Senhor dos Anéis é uma coisa, mas incluir o professor entre esse escritores, seja de fantasia ou não, que usam o artíficio do esquema de trilogias é falar do que não sabe, já que Tolkien não queria de jeito nenhum dividir o livro. Porém, devido ao custo do papel no período pós-guerra, a editora o convenceu – depois de muitas e muitas conversas – a dividi-lo em três partes. E mesmo assim, Tolkien sequer concordou com os títulos, a não ser do primeiro, A Sociedade do Anel.
E eu fiz isso? Onde?
O que eu disse foi que 1) não gostei do Senhor dos Anéis e 2) que me irrita a mania da gente da fantasia de planear a coisa para trilogia.
Sim, escrevi uma coisa após a outra. Normalmente, escrevem-se frases consecutivas quando existe uma ligação entre elas. E haverá uma ligação entre 1) e 2)? Obviamente que sim. Não só Tolkien está no altar de quase todos os fantasistas, que por isso tendem a (ou começam por) imitá-lo e/ou seguir-lhe as pisadas, como o sucesso comercial que O Senhor dos Anéis começou a ter a partir de dada altura levou autores e editoras a apostar no esquema da trilogia como algo que funciona comercialmente.
Isto é diferente de dizer que Tolkien usava conscientemente o mesmo esquema, o que seria absurdo porque na época em que ele escreveu a sua trilogia esse esquema nem sequer existia. Lamento desfazer a ficção confortável que arranjou, mas não sou assim tão estúpido. O que não quer dizer que O Senhor dos Anéis não tenha também a sua dose de enche-chouriços. Aquela cena do Tom Bombadil é um bocejo pegado do princípio ao fim. Entre outras. Mas, ao contrário dos fantasistas medíocres que hoje pululam por todo o lado, o velhote não estava minimamente interessado em sucesso comercial. Se escreveu o(s) livro(s) como escreveu é porque achou que era assim que ficava bem. Com bocejos e tudo.
A questão básica é: eu não estava ali a falar de Tolkien. Tolkien só apareceu na conversa porque não é possível falar de escritores de fantasia sem falar dele. E era disso que eu estava a falar: de escritores de fantasia. Para explicar porque a experiência com Martin foi para mim tão surpreendente. Ficou claro agora?
Antes de acusar alguém de não saber do que fala, caro Eduardo, se calhar convém começar por ler e pelo menos tentar entender o que essa pessoa escreve. Que este conselho de amigo lhe sirva de futuro.
Sendo assim, peço desculpas, caro Jorge. Posso ter interpretado mal suas palavras – talvez movido pela paixão que nutro pelas obras do professor. Fica aqui registrado minhas humildes desculpas pelas palavras um tanto precepitadas.
Porém, devo descordar quanto aos “enchouriços”, como você disse. Tom Bombadil, para mim, é um personagem muito interessante, já que não fica claro sua origem (e acredito que era assim mesmo que Tolkien queria), fazendo-me pensar lá no começo da criação de Arda e conjeturando a possibilidade de Tom ser um Vala. Mas isso é apenas a minha opinião; entendo e respeito a sua.
Desculpas aceites e agradecidas.
Relativamente ao Bombadil, teremos de concordar em discordar. Não só não encontro o mais pequeno interesse na personagem como me parece que, no contexto da história que é contada no Senhor dos Anéis, ela é, mal comparando, assim uma espécie de apêndice: está lá, mas ninguém sabe para quê e pode ser retirado sem causar qualquer dano ao organismo.
Acho que o que você quis dizer no fim é que cada referência é apenas um aspecto de um conjunto de referências, difíceis de separar umas das outras, não? Mas, de fato, o todo tudo contém e eu também sou fã de José Saramago. 🙂
Sim. E que muitas vezes nem sabemos bem de onde vêm as referências, pelo menos aqueles de nós que não estão obcecados com elas. Porque há escritores que estão, e não há nisso nada de mau, em princípio. Mas outros não, outros encaram as referências de uma forma muito mais orgânica e inconsciente. Eu incluo-me nestes últimos. É por isso que fazer destas listas me é sempre tão difícil.