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Cabe mais um aí?

Em 1982, em uma propaganda de TV para anunciar um famoso desodorante, uma cena interessante aparecia nos televisores dos lares brasileiros: um bondinho lotado, com vários passageiros em pé, e de repente aparecia uma garota para entrar também. De primeiro momento dava-se a impressão que não haveria espaço para ela, mas o bordão musical entoava a seguinte frase: “com Rexona sempre cabe mais um”.

O comercial foi atualizado nos anos posteriores. Ainda nos anos 1980, o bordão foi repetido em uma cena com um balão, que também receberia mais um “passageiro”, além de outras sequências, como a conhecidíssima (ao menos para quem é antenado em comerciais de TV) cena do elevador lotado. É engraçado que essa cena do elevador marcou tanto que até hoje, ao pegarmos elevador lotado, alguém tira o famoso bordão do fundo da memória e lança um “pode entrar, aqui é igual Rexona, sempre cabe mais um”.

Claro que fica evidente que o famoso bordão foi inspirado no não menos famoso ditado popular: “coração de mãe sempre cabe mais um” (alguém duvida dessa frase?)

Trazendo esse bordão para o mundo da literatura fantástica brasileira, em tempos de sucessos internacionais como Crepúsculo, Harry Potter, Game of Thrones e tantos outros, estamos presenciando desde a segunda metade da década passada uma enxurrada de novos lançamentos de autores nacionais, sejam coletâneas quanto romances, a ponto de se questionar se esse crescente boom literário não chegaria a um limite, esgotando suas possibilidades para na sequência encolher, ou se prosseguiria em um crescente sem limites. Porém, não é minha intenção discorrer sobre esse tema, afinal, ele já abordado por outros blogueiros, críticos, especialistas e palpiteiros de plantão.

E no meio dessa “enxurrada” de lançamentos que vem acontecendo nos últimos anos, algumas provocações foram feitas às vésperas do lançamento da antologia Space Opera (organizada por Hugo Vera e Larissa Caruso) no início deste mês, e que foram mencionadas no bate-papo realizado com os autores presentes no lançamento paulistano do livro. Quem esteve presente deve se recordar.

Uma das provocações mencionadas no bate-papo foi a de que estaríamos remando contra a maré, ao escrevermos histórias de aventuras espaciais, fugindo da “atual tendência” que seria o subgênero steampunk. A resposta bem humorada que dei no momento foi a que nós da Space Opera não “remamos”, mas sim “navegamos no espaço”!

A outra provocação foi a de que o lançamento da Space Opera seria uma resposta à onda steampunk. Pura bobagem! Em cima disso, também falei durante o lançamento que não há respostas a serem dadas a ninguém e que não haviam duelos a serem travados, até por que nossas armas são muito melhores do que as da era do vapor! E isso arrancou risos do público presente. (Os chatos de plantão que provavelmente estão lendo estas linhas devem estar no momento pulando das suas cadeiras e apontando a tela dizendo: “A-há! Eu sabia! Existe uma ‘guerrinha’ acontecendo!”… Tolos!)

Em um lançamento de um livro sobre aventuras espaciais, não havia como não brincar com o tema, defendendo nosso lado e vendendo nosso “peixe” obviamente. Mas brincadeiras à parte, esse assunto de “guerra de gênero/subgêneros” ficou na minha mente, afinal, quando decidimos colocar em prática o projeto de organização de uma antologia, tanto eu quanto a Larissa Caruso não pretendíamos de forma alguma “dar respostas” a quem quer que fosse, quanto menos criar “novas tendências”. Apenas queríamos fazer algo bacana, algo que nós curtimos e que os leitores também poderiam curtir.

E em meio a essas provocações, achei interessante que em um momento de expansão da literatura fantástica brasileira novas editoras surgiram, criaram-se novos selos editoriais, surgiram novos autores (que talvez já existissem, mas nunca foi dada a devida importância até então), e tantas outras coisas que vêm acontecendo, vem a turma dos “chatos de plantão” para insinuar possíveis rivalidades no meio.

Não, meus amigos. Não há guerra de subgêneros. Eu pelo menos não vejo assim. Não há concorrência para ver qual é o melhor nem qual vende mais. Não há tendências (talvez “modismos”?). O que há é pura e simplesmente um bando de escritores, desde os veteranos aos mais novatos, que estão buscando seu espaço, querendo apresentar seu trabalho, independente do gênero ou subgênero.

E falando em buscar espaço, a Draco é um exemplo de editora que apoia a literatura fantástica brasileira, independente de sua vertente. E como exemplo disso, cito apenas alguns de seus recentes lançamentos: Vaporpunk (steampunk), Necropolis (dark fantasy), O Baronato de Shoah – A Canção do Silêncio (steam fantasy), O Castelo das Águias (fantasia), Space Opera (space opera/FC soft) e o em breve Dieselpunk (dieselpunk).

Vendo os exemplos que coloquei, a única tendência que vejo é o gosto que essa editora tem por investir na literatura fantástica nacional (Oba! Já era hora de alguém se preocupar com isso!)

Portanto, não há nenhuma briga acontecendo, a não ser aquela que ocorre na cabeça de alguns poucos desocupados que querem ver flame wars entre os colegas do meio, sejam nas redes sociais ou nos bastidores. Mas como diz o velho alerta internético: “Não alimente os trolls”

O fato é que há espaço para todo mundo. E é isso o que importa!

Há espaço para os vampiros, as fadas, os zumbis, as naves espaciais, os dirigíveis à diesel, as máquinas à vapor, os alienígenas, as princesas, as viagens no tempo, os elfos, os ogros, os cowboys e até para os fantasmas. Basta colocar no papel.

A Literatura Fantástica Brasileira, meus amigos, é igual Rexona: sempre cabe mais um!
E o leitor agradece!

0 Comments

  1. Matheus disse:

    Parabéns pelo site!!

  2. Matheus disse:

    Concordo com a Bia, obras muito boas mesmo…

  3. Bia Machado disse:

    É isso aí, sempre cabe mais um. Pra mim, como leitora, isso é ótimo. Adoro variar. E acho que curto a Draco justamente por causa disso. Vida longa a essa editora e aos “leitores Rexona”, rsss…

  4. ADOREI ler este texto! Foi um esplêndido incentivo matinal! Me encheu de ânimo e expectativas, acreditando que, realmente, não estou “remando contra a maré” e lutando por uma causa perdida! Vejo, agora, que sem dúvida há espaço para todos e que apesar de já ter escutado muitos “Nãos”, a minha obra ainda encontrará uma porta aberta, pelo menos alguém interessado em dar uma olhadinha no site, à princípio. O sonho está apenas começando! Obrigada por me ajudarem a ter fé! Um grande abraço.

  5. Infelizmente tem muito mais gente interessada em brigas e jogos de tronos literários do que, de fato, fazer algo pela literatura.
    Por sorte, os bons ainda são maioria (fazendo referência a outro comercial…)

  6. Thiago Vieira disse:

    Ótimo texto.

    Também acredito que “há espaço para todos”, desde que tenham qualidade. Acredito que a literatura brasileira, ou melhor, o mercado brasileiro de literatura está vivendo um momento ímpar, onde as pessoas estão passando a dar mais valor e tendo, de fato, a possibilidade de dispor de recursos para investir em leituras e livros como forma de entretenimento.

    Claro, falo isto ainda dentro de um movimento modesto, pois o brasileiro tenho o péssimo habito de não ser tão instigado – se é que podemos colocar assim – com a leitura. Mas é algo que vem crescendo, ainda bem.

    De todo modo, há espaço para todo mundo sim. Desde que aliado ao crescimento dos títulos e das obras, se cresçam também o público e o acesso das pessoas aos livros.

    Um abraço!