Zé Wellington, que também tem na Draco os quadrinhos Steampunk Ladies – Vingança a Vapor e Quem matou João Ninguém?, falou sobre as obras que o impactaram. Confira!
Muitas influências surgiram no meio do caminho de Cangaço Overdrive, mas por incrível que pareça, a HQ começou com o desenho animado Samurai Jack, da Cartoon Network. Gosto muito de toda a vibe da história e a ideia inicial era ter um tom mais cômico em Cangaço Overdrive (ainda que Samurai Jack no geral fosse bem sério).
Contudo, no meio do processo de construção, surgiu a oportunidade de trabalhar com o desenhista Walter Geovani e achei que para o estilo dele era mais legal algo numa pegada mais adulta. Hoje o quadrinho lembra mais Ronin, do Frank Miller, que provavelmente influenciou Genndy Tartakovsky na concepção dessa história de um samurai deslocado no tempo.
E para completar, quando falei para o Geovani que que queria usar Samurai Jack como referência, ele me lembrou de outro samurai…
O Geovani adora Afrosamurai e falou várias sobre ele nas conversas iniciais do projeto. Eu particularmente adoro escrever histórias de ação e aventura e, como já conhecia o anime, fiquei empolgado com a ideia. No final, acabamos optando por uma coisa mais pé no chão e menos viajante. Porém, um pouco da violência e pegada sanguinária de Afrosamurai ainda acabou sendo derramada em Cangaço Overdrive.
Com pouco tempo disponível para ler, terminei Neuromancer quando eu já estava na etapa final do roteiro de Cangaço Overdrive. O livro de William Gibson praticamente construiu todos os caminhos do que hoje é o cyberpunk, então era engraçado esbarrar na história em uma ou outra ideia que eu já tinha escrito. Isso tudo por que o romance de 1984 influenciou praticamente tudo o que me influenciou.
Com versos como “O homem coletivo sente a necessidade de lutar…”, se Cangaço Overdrive tivesse uma trilha sonora, seria esse disco do Chico Science & Nação Zumbi (ou vice-versa). Se teve alguém que conseguiu traduzir bem o movimento cyberpunk para o Brasil foi o Chico. Ressaltando a tradição e o regional, mas convocando o ouvinte para o futuro, o álbum projeta uma Recife (e, por consequência o nordeste inteiro) sombria e distópica. Um álbum lançado em 1994 e mais atual do que nunca. Escute as duas primeiras faixas prestando atenção na letra e volte para ler Cangaço Overdrive.
Ouça no Spotify: https://open.spotify.com/album/0W6hOSkA2g1BAXvwHUw7ds?si=uAf46PQJS3iHNkCcnF8UXQ .
Você vai entender tudo que motiva o núcleo de personagens do Morro do Preá.
Nessa tentativa de me conectar com o lugar onde nasci e escrever algo que fosse legitimamente nordestino, fui reapresentado ao cordelista Patativa do Assaré. Semianalfabeto e cego de um olho, o poeta popular falava das belezas do sertão do Ceará em seus cordéis, mas também tinha um lado ativista e político poderoso.
A hacker Lila, personagem do quadrinho, poderia muito bem ter escrito “Reforma agrária é assim”, poesia de convocação de combate de Patativa. Para quem quer conhecer melhor o poeta, fica a indicação deste documentário do diretor Rosemberg Cariry.
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1 Comment
Meus parabéns aos autores, conseguirem usarem tantas referências da cultura pop e ainda assim trazer algo regionalista é um feito e tanto. Gosto muito do cyberpunk e escrever esse gênero ficcional pra mim é muito prazeroso. Dá muitas possibilidades ao escritor.