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Escrevendo Erva Daninha, por Melissa de Sá

cruzada
Escrevi “Erva Daninha” em 2013 e foi minha primeira experiência com fantasia histórica, um gênero com o qual eu já flertava há algum tempo. O conto se passa durante a quarta cruzada, em Veneza, envolvendo um episódio da história que sempre me deixou intrigada. O conto mescla elementos reais e fictícios num cenário de guerra e na busca da imortalidade.

Apesar de eu ter ficado radiante com o convite de Ana Lúcia Merege e Eduardo Kasse para integrar a antologia Medieval (veja só, meu primeiro convite como escritora profissional), esse foi um período bastante conturbado na minha escrita. Estava escrevendo minha dissertação de mestrado (sou mestre em Literaturas de Língua Inglesa) e qualquer um que já passou por isso sabe o quanto é estressante. Lembro de me dedicar a “Erva Daninha” nos intervalos de escrita, trocando ideias com meu marido a respeito do plot na mesa do café enquanto recebia e-mails de cobrança da minha orientadora…

Até que acabou. Zara estava em ruínas. Um velho atirara uma flecha em meu antebraço direito. Eu estava deitado no chão, dois soldados discutindo se eu ia viver ou morrer, e então veio o silêncio.

Deus não estava nele.

Quarta cruzada. Veneza. Saque de Zara. Eu estava com esse cenário na cabeça desde que assisti ao vídeo sobre o assunto no canal Crash Course, do John Green. Sempre gostei do tema e já li/assisti muitas obras sobre cruzados, Saladino e Jerusalém, mas o absurdo da quarta cruzada, que atacou uma cidade cristã ortodoxa, Zara, para atender interesses financeiros dos ricaços de Veneza, me pareceu assunto espinhoso o suficiente. Decidi que o protagonista seria um soldado comum, Pierre, um jovem iludido e cheio de culpas, que encontra em Veneza uma mulher misteriosa.

Mas digo que o conto engatou mesmo quando descobri a figura de Enrico Dandolo. Um homem com seus mais de noventa anos (em plena Idade Média!), completamente cego, Doge de Veneza e, pasmem, cavaleiro que liderou o ataque a Zara. Como assim? Quanto mais eu lia sobre Enrico Dandolo, mais fascinada ficava por sua história e ele acabou se tornando o grande antagonista em “Erva Daninha”.

Ela sorriu, mas não eu.

– Agora temos que tomar cuidado.

– Por quê?

– Porque Enrico Dandolo quer o que todos os homens que chegaram à velhice querem.

– E o que seria isso?

– Viver um pouco mais.

Para o elemento fantástico da história, pensei muito nas lendas de Xanadu e de um paraíso onde se pode viver para sempre. Essa ideia de que existem seres imortais andando no meio de nós e que só temos que prestar atenção o bastante para percebê-los.

Foi um conto difícil de escrever, talvez o mais complicado até agora. Lembro de mandar o conto para as revisoras Karen Alvares e Nívia Fernandes e receber o temido REESCREVE de volta. Foi acertar as pontas soltas e as arestas, pensar mais na voz daquele soldado francês perdido no meio de Veneza e seu amor por aquela intrigante mulher. E aí veio mais reescrita a pedido dos editores. E no meio disso tudo eu escrevia minha dissertação de mestrado e parecia que mundo ia acabar. Mas deu tudo certo.

Valeu a pena o trabalho e “Erva Daninha” certamente é um dos contos que mais me marcou em seu processo de escrita com seus temas de guerra, amor e busca pela eternidade. Talvez não dê mesmo para separar uma coisa da outra.

Quando eu era apenas um menino, ouvia minha mãe falar que o único amor verdadeiro era aquele do Cristo. Ela me fazia rezar junto com ela, segurando um pequeno crucifixo dourado, o único item de valor em toda a casa. Minha mãe usava-o enrolado no pulso, por baixo das mangas de seu vestido. Ia trabalhar com ele na lavoura e, quando eu ia junto ajudá-la, ao final do dia, podia tocá-lo. Então, fazíamos uma oração.

Gostou desse conto? Ele é parte integrante da coletânea Medieval: Contos de uma Era Fantástica.

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