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Lúcio Manfredi fala sobre o seu novo romance "Encruzilhada"

lucio-manfrediConversamos com o autor Lúcio Manfredi, que além de escritor é roteirista na TV Globo. Antes de publicar o livro Encruzilhada, participou das antologias: Intempol (2001), História do Olhar (2002), Como era gostosa a minha alienígena (2002), Vinte voltas ao redor do Sol (2005), Dez contos de terror (2009), Galeria do Sobrenatural (2009) e da coletânea: Paradigmas 3 (2009). Em 2010 teve o seu primeiro romance Dom Casmurro e os Discos Voadores publicado.

Vamos ao nosso papo!

Draco: O livro fala do encontro de um personagem com o seu próprio interior. Claro que toda narrativa traz esse tipo de enfrentamento, mas como trabalhar a simbologia da casa e suas portas e caminhos em seu romance?

Lúcio Manfredi: A casa é um símbolo que ocorre de modo espontâneo em sonhos, fantasias e outros produtos do inconsciente justamente para representar o corpo, a psique ou o ego. Encruzilhada trabalha esse simbolismo de modo deliberado, fazendo com que as portas da casa se abram para diferentes planos de realidade que, por sua vez, reproduzem os vários compartimentos da psique de Max. É quase como se o livro fosse uma espécie de psicodrama psicodélico, rs.

Draco: Ficção científica ou Ficção espiritualista? Como você vê essa mistura de gêneros que vai desde o thriller psicológico até reflexões pessoais como o centro de uma boa história?

L.M.: Eu não gostaria que Encruzilhada fosse considerado ficção espiritualista. Apesar do livro incorporar elementos da umbanda ao enredo, eu não sou umbandista, e o romance não tem nenhum propósito doutrinário ou apologético. Eu uso os elementos umbandísticos como um autor de literatura fantástica, como matéria-prima para ficção. Quanto à mistura de gêneros, isso já fica explícito no próprio título: o livro habita uma encruzilhada entre a ficção científica, a fantasia e o terror.

Ele pertence àquele gênero-intergêneros que Bruce Sterling batizou de slipstream, e que ele define como “a kind of writing which simply makes you feel very strange”. Pelo menos, eu espero que Encruzilhada seja o tipo de livro que faz o leitor se sentir muito estranho. 🙂

Draco: Você é um autor e roteirista para televisão na TV Globo. Poderia dividir um pouco de como enxerga a diferença da produção de TV para a forma mais livre do romance literário?

L.M.: Em termos de estruturas narrativas, de maneiras de se contar uma história, não vejo grande diferença. Os princípios de storytelling são os princípios de storytelling, seja na tevê, na literatura, cinema, teatro, ou um contador de histórias à beira da fogueira. Por outro lado, cada veículo permite contar determinadas coisas, de determinadas formas, ao mesmo tempo em que proíbe outras.

No caso específico de tevê e literatura, vejo duas grandes diferenças principais. A primeira é que um romance é uma obra acabada, completa em si mesma. Um roteiro é só um guia para a obra final, uma espécie de planta arquitetônica. Se eu escrevo num romance uma cena em que um gigantesco cachorro negro se transforma num esqueleto humano animado diante dos olhos do protagonista, isso basta para conjurar a cena na cabeça do leitor. Para se criar a mesma cena num roteiro, precisaria de efeitos especiais, o que implicaria num custo maior. Ou seja, eu posso pedir o que eu quiser numa cena de romance, por mais absurdo ou complexo que seja. Num roteiro, eu estou preso a limitações de orçamento e viabilidade técnica.

A segunda diferença é que o romance pertence ao autor. Um filme ou um programa de tevê são criações coletivas. Desde o início do século XX, existe um constante cabo de guerra nas artes dramáticas entre o autor e o diretor, para definir qual dos dois é o “verdadeiro” artista, a mente criativa por trás da obra.

Na década de 1960, inclusive, os franceses contribuíram para embolar ainda mais o meio de campo, quando a galera do Cahiers du Cinema, seguindo a trilha do André Bazin, declarou que o diretor é o autor do filme, o que deixou os roteiristas até hoje em pé de guerra. E é uma guerra estúpida, uma fogueira das vaidades que não tem a menor razão de ser, porque não existe o “verdadeiro” autor de um filme. A obra é o resultado de um processo colaborativo, não só entre autor e diretor, mas também atores, cenógrafos, figurinistas, enfim, todo mundo que contribui criativamente para o resultado final. Já no caso do romance, não existe esse coletivismo. O autor do romance é o autor do romance, e fim de papo. Por um lado, ele não precisa prestar contas a ninguém. Por outro, para o bem e para o mal, todas as decisões criativas recaem sobre ele.

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Encruzilhada, Lúcio Manfredi

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