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Ligando o motor da Máquina do Mundo, de José Roberto Vieira
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Boy’s Love: Escrevendo “Sobre Ele”, Fábio Baptista

(…)

Continuei indo naqueles arredores por algum tempo, vez ou outra achando uma lata de conservas ou um pote de mel, que garantiam forças para levar aquela vida miserável por mais alguns dias. Ele sempre estava lá, contemplando o horizonte, com a expressão de quem sabe que espera algo que nunca vai acontecer. Acho que tudo continuaria assim indefinidamente, mas um pequeno milagre ocorreu e eu finalmente tomei coragem de ir falar com ele. Nas ruínas de uma antiga casa típica do subúrbio, encontrei, entre pesados pedaços de madeira, um conjunto formado por uma garrafa e duas taças de vinho. Completamente intacto. Provavelmente foi guardado para ser aberto em uma ocasião especial que nunca teve a oportunidade de acontecer e agora estava ali, inteiramente a minha disposição, como um presente divino. Peguei a caixa, como uma criança pega um presente de Natal, respirei fundo, cheguei perto dele e disse, tentando soar o mais natural possível:

 

– Oi, tudo bem? Você gosta de vinho?

 

Virou-se na minha direção, como se despertasse de um transe, me encarou com surpresa e abriu um sorriso. Um sorriso cansado, mas por Deus, duvido que alguma mulher no mundo não se apaixonasse de imediato por aqueles dentes brancos cintilando entre lábios carnudos e pela covinha charmosa na bochecha. Com olhar companheiro que parecia desnudar toda minha essência e, com uma voz rouca que denunciava muito e muito tempo sem falar, disse:

 

– Você é um anjo?

 

Fiquei meio sem jeito e só consegui emitir um “ahn?”, que obviamente me fez parecer uma completa idiota. Notando meu desconcerto ele gentilmente emendou outra frase:

 

– Ora, só um anjo poderia arranjar uma garrafa de vinho em meio a toda essa devastação. Ainda com duas taças tão lindas para acompanhar. Onde você conseguiu isso?

(…)

Arte por Tanko Chan

Algumas histórias aparecem prontas. Outras vão se formando aos poucos, com uma coisinha aqui e outra ali se encaixando como peças num quebra-cabeça.

Apesar de o primeiro grupo ter seu charme (e reduzir consideravelmente o tempo angustiante que passamos olhando a tela em branco, esperando que algum anjo de luz ou outro espírito caridoso e inspirado que goste de Litfan nos sopre a continuidade da trama no ouvido), gosto mais do segundo tipo, porque sempre que isso acontece fico com a impressão que tem algo mágico no processo de criação, algo além da simples troca de impulsos elétricos entre os meus neurônios.

Quando vi a chamada para a coletânea “Boys Love – Histórias de Amor sem Preconceito“, pensei – “tá aí um bom desafio!”. E a primeira peça já veio de graça, logo de cara já sabia já sabia qual seria o cenário. Não sabia quem estaria caminhando por ali, muito menos o que havia se passado, mas sabia que a história seria num ambiente devastado. Ok, legal… mas e agora?

Lendo e relendo o regulamento, acabei montando mais um pedaço do quebra-cabeça. Ali estava escrito que a maior parte do público desse tipo de história é composto por mulheres. Então eu soube que, apesar do conto ser sobre dois caras que se amam, a história seria contada por uma mulher (que acaba sendo a personagem principal).

Mas ainda não tinha certeza de como as coisas aconteceriam. Então fiquei pesquisando citações no Google (é algo que normalmente ajuda no meu processo criativo) e daí aconteceu a mágica. Encontrei esse trecho de beleza e sabedoria ímpares, de Eça de Queiroz :

O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam.

Os impulsos elétricos fizeram sua parte e, um segundo depois, tudo estava desenhado na minha imaginação – as referências, as características e motivações dos personagens, as tiradas, tudo.

Ótimo, havia passado pela fase da inspiração, que corresponde a 10% da coisa toda. Os outros 90% foram regados a cafeína e noites mal dormidas, mas eu gostei do resultado. Minha mãe também gostou, mas, depois que ela disse que me acha lindo, fico com um pé atrás quanto ao bom gosto dela.

Enfim, espero que vocês gostem.

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0 Comments

  1. Fabio Baptista disse:

    Rubem, também estou aqui no aguardo pelo livro!

    Tanko, acho que esse “toque Nerd” acaba entrando involuntariamente em tudo que eu escrevo kkkkk

    Espero que a história agrade os fãs do gênero. 😀

    Abraço!

  2. Tanko disse:

    Este conto é muito diferente e interessante, o ponto de vista peculiar o destaca bastante do que estamos acostumados a ver no Boy`s Love e com o bônus de um toque “nerd”. Os personagens são críveis, têm um relacionamento realista, apesar do surrealismo da situação que enfrentam!

  3. Rubem Cabral disse:

    O trecho destacado ficou bem interessante. Espero logo poder ter o livro em mãos!