– Bem que eu queria que o mais amargo da vida fosse só o chocolate. – eu disse, destacando um pedaço do tablete e saboreando cada pedacinho. Nós nos sentamos ao lado do armário, com a vela entre nós. – Sabe… Eu tinha esse sonho quando era criança… de ficar presa no supermercado de noite e comer todos os doces que quisesse.
– Aposto que não era exatamente assim que você sonhou, né? – Fabrício perguntou e nós dois rimos de um jeito meio sem graça. – Como está o mundo lá fora?
– Horrível. Perdido. Destruído.
“Chocolate” foi um conto divertido de escrever, mas muito trabalhoso. Ele não queria ficar do tamanho certo de jeito nenhum. Parecia que tinha vida própria. Precisei de muita paciência, revisão e reescrita para ele chegar ao que é hoje. E, claro, contei novamente com a ajuda das minhas super-revisoras, Melissa de Sá e Nivia, que me deram ideias ótimas de como “engordar” meu conto – e foi preciso mais do que barras de chocolate para isso.
A história dessa ideia é um pouco engraçada. Estávamos eu e meu marido, Felipe, conversando e preparando o almoço de domingo, quando foi preciso abrir uma lata de ervilha em conserva. Meu marido simplesmente não consegue abrir latas, é algo impossível para ele. Ele até que tentou, mas tudo o que conseguiu foi criar um caminho de rato na lata e eu tive que terminar o trabalho. Comentei com ele: “Olha, você vai precisar de mim no apocalipse zumbi”. E então veio a ideia. Essa é uma característica de Fabrício no conto e, claro, motivo de risadas para Luciana e Seu Antonio, avô do rapaz.
Acho que ficar preso em um supermercado e poder comer toda a comida e doces que se queira já foi sonho de qualquer um – mesmo depois que a gente não é mais criança. No conto encontramos isso, mas o motivo não é dos melhores, afinal, Luciana e Fabrício estão no meio de um apocalipse zumbi. O universo desse conto é algo que me persegue há anos. Ele faz parte de uma história maior, que ainda estou escrevendo. As histórias que orbitam ao redor desse romance, por enquanto, saem mais fáceis. Por hora, vou planejando e organizando melhor minhas ideias para um livro.
Tentei colocar referências nerds, mas também usei algumas bem brasileiras nesse conto. Sinto falta disso nas histórias, portanto gosto sempre de colocar nas minhas, para rolar uma identificação com a nossa cultura e nosso dia a dia. E, claro, como boa paulista (e santista), eu falo bolacha recheada – não biscoito. E isso está no conto também.
Nesse conto, fiz questão da protagonista ser negra. Seu nome peguei emprestado de uma grande amiga minha, muito parecida com a Luciana do conto, uma mulher corajosa e decidida. Na época, vi um infográfico sobre a literatura brasileira e esse foi um dado que me alarmou. Em 258 livros estudados, apenas três protagonistas eram mulheres e negras. É algo que precisamos repensar. Se quiserem ver o infográfico, cliquem aqui.
“Chocolate” um romance doce, mas meio-amargo, como o chocolate e a vida. Nem sempre a vida é doce, afinal. Mas até na amargura podemos encontrar alguma felicidade.
Interessou-se pela coletânea Meu Amor é um Sobrevivente? Acesse: editoradraco.com/2013/11/05/meu-amor-e-um-sobrevivente/ e garanta o seu exemplar!
0 Comments
Ai que lindo o Rick e a Lori! Walking Dead é tudo a ver com meu conto! *____*
Adorei escrevê-lo e é um baita orgulho estar nessa antologia e no time dos Dragões! Obrigada pela oportunidade! 🙂
Esse conto é uma delícia, apesar do tom amargo. Foi daquelas que me deixou pensando bastante depois, principalmente sobre a maldade dos humanos e sobre o que vale a pena fazer para sobreviver.
Ah, obrigada por me citar! Me sinto honrada de revisar suas coisas. 🙂 Agora quero meu exemplar autografado.
Você é a minha super ultra mega blaster querida beta junto com a Nikota! *___* Como não falar de vocês?