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[Top 5] Jim Anotsu

Todo garoto apaixonado é um pouco ridículo. Esta é a história de Andrew Webley, um garoto muito ridículo.” O livro conta a história de Andrew Webley, um jovem de 19 anos que mora na cidade de Dresbel, um aspirante a escritor, sem rumo na vida e apaixonado pela melhor amiga, uma violinista, há mais de três anos sem ter coragem de se declarar para ela. As coisas começam a mudar quando conhece Ive, a filha mais nova da Morte e ceifadora estagiária. Ela lhe revela que caso encontre os três nomes verdadeiros de um certo gato, poderá fazer qualquer pedido, inclusive o amor da garota que ama. Com a ajuda de Prozy, uma coelha niilista que é alérgica a si própria, a dupla passa a procurar os nomes do gato numa busca que os leva até o mundo das fadas, a Cidade dos Ratos e outros lugares. Mas não estarão sozinhos nessa busca, um feiticeiro e uma fada do fogo estão no encalço da dupla, assim como Rayla, a capitã da Divisão de Investigação Espiritual, e irmã mais velha de Ive. Para saber onde isso termina, só lendo.

O primeiro romance de Jim Anotsu

Nosso Top 5 continua a todo vapor. Dessa vez, trouxemos Jim Anotsu, o autor de Annabel & Sarah e A Morte é Legal (que agora está em pré-venda com 20% de desconto e frete grátis para todo o Brasil), para falar um pouco das obras que influenciaram seu trabalho. E ainda revelamos sua identidade no final. Nah, não revelamos, não.

Começando:

 

1 – Pinkerton, Weezer

Pinkerton

Jim Anotsu: Pinkerton é uma das coisas mais lindas da minha vida. Talvez Rivers Cuomo não soubesse que estava criando a melhor obra do Weezer com esse disco. Pinkerton é o segundo disco do Weezer, o follow-up do estrondoso Blue Album. É sujo, direto e meu companheiro de teen angst. O disco ficou famoso por sua trajetória, depois de Rivers ter dado um tempo na banda para se focar nos estudos em Harvard – e se tornar o rejeitado do lugar. O disco em seus curtos 34 minutos funciona como se fosse um diário, passando sobre o drama de nem se importar em se declarar para uma garota por saber que não vai dar em nada ou se apaixonar e descobrir que a garota é lésbica. É possível sentir toda a angústia de Rivers em cada sílaba. O problema é que o disco não foi bem aceito e a crítica o massacrou impiedosamente, fazendo com que nosso esquisito favorito sumisse do mapa e jurasse nunca mais tocar nada desse disco. Bem, os anos se passaram e o revisionismo passou por ali e os fãs descobriram como Pinkerton era uma das obras mais importantes do rock dos anos 90. E uma das pedras fundamentais para se entender o emocore. Sim, meu estilo favorito de música é o emo. Mas nada que inclua franjas horríveis ou calças que nem o Prince usaria. O movimento emo de verdade, que foi do fim dos anos de 1980 até meados de 1990 era formado por bandas como Drive Like Jehu, The Get Up Kids, Mineral e Sunny Day Real State – até que o Jimmy Eat World lançou Bleed American e a coisa explodiu. Bem, Pinkerton é uma obra importante e está para a música adolescente como O Apanhador no Campo de Centeio está para a literatura YA. E para irritar o Cirilo Lemos: toda a música ocidental foi um prelúdio para o Radiohead!

Draco: Tanto em “Annabel & Sarah” quanto em “A Morte é Legal” a música tem grande importância. Como isso se relaciona a escrita?

JA: Eu costumo acreditar que em literatura – que funciona para o leitor em símbolos, semiótica – o gosto musical e literário de um personagem diz muito sobre ele. Annabel, por exemplo, gostava de indie rock do início do século XXI, bandas como The Wombats, Franz Ferdinand, Arctic Monkeys. Já o Andy, no livro novo, ouve apenas emocore de raiz: Rites of Spring, Jawbreaker e coisas assim. E bem, eu gosto de música, assim sendo, eu consigo me divertir escrevendo. Sou um violinista frustrado, mas descobri recentemente que eu sei fazer rap! “A Morte é Legal”, mais do que tudo aquilo que escrevi antes, tem um foco em música maior, visto que temos esses dois jovens que sonham em gravar uma demo e enviar para esse produtor famoso na California.

 

2 – On The Road, de Jack Kerouac

On the road, de Jack Kerouac

JA: On The Road foi um divisor de águas para mim. Bem, numa das introduções da edição brasileira diz que Kerouac tirou a literatura do escritório e colocou na rua e eu concordo. Eu passei boa parte da infância e início da adolescência lendo caras velhos que escreviam como velhos – ora, eu amo Pooh, mas a narrativa do Milne é claramente um velho contando histórias para crianças ou – ou velhos que escreviam para velhos – Mario Puzo, Nabokov, Conrad são alguns. Eu li, como muitos outros autores, muita coisa juvenil, Verne, Stevenson – meu autor favorito até hoje, Doyle e Stephen King, mas foi Kerouac quem me mostrou a loucura da juventude sem fantasias. E estava tão perto da minha outra paixão – a música – que foi paixão a primeira vista. Daí foi um salto para todos os outros beats: Ginsberg, Burroughs, Ferlinghetti, Neal e seu primeiro terço. E cada um me levava a mais – Bukowski, Fante, Cèline, Irvine Welsh. E Kerouac me mostrou como se pode fazer música com palavras, essa prosa espontânea! O único autor que depois me causou tanto assombro depois foi Thomas Pynchon – que é influenciado por Kerouac. Ah, Ralph Ellison e seu Homem Invisível também.

Draco: Em “Annabel e Sarah”, Jack Kerouac e o espírito do Road trip são homenageados com uma cidade que se chama Kerouac. Como esse tipo de literatura passa por você?

JA: Eu gosto de road stories, sempre gostei. Tanto que a parte mais legal de Lolita para mim é a parte na estrada.Acho que num livro os personagens estão sempre viajando, seja fisicamente ou dentro deles mesmos. É por isso que eu gosto do tema de busca, de ir atrás de alguma coisa perdida ou secreta, uma metáfora para o que se passa  no mundo interior. Tanto que uma das coisas que eu desejei fazer em “Annabel” foi que cada mundo se assemelhasse ao que elas são. E a cidade na qual a trama de “A Morte é Legal” se desenrola funciona da mesma forma.

 

3 – Shakespeare.

Bill é o cara

JA: Eu amo esse cara. Eu daria um beijo na boca dele se ele surgisse na minha frente – espero que a minha namorada me perdoe por dizer isso. Muita gente se prende ao fato: Ele é tão velho e deve ser tão chato. Mas, eu acho que ele era o Quentin Tarantino daquela época. O que ele faz em Hamlet ou A Tempestade é coisa de gênio. Shakespeare fez perfeitamente tudo aquilo no qual se aventurou: drama, comédia, tragédia e mais. Não consigo imaginar ou gênio cômico maior que Falstaff ou um herói emo maior do que o príncipe da Dinamarca. Eu rio com A Megera Domada e Como Gostais e chorei ao ler o tomorrow and tomorrow pela primeira vez. Macbeth, a proposito, é lindo na voz do Ian Mckellen.

Draco: É possível perceber que além da cultura pop, o cânone literário, principalmente o de língua inglesa, te influência bastante. Como funciona isso?

JA: Bem, quando eu descobri os livros da minha casa eu não tinha ciência de que estava lendo algo canônico ou não. Ou eu gostava ou não. Eu leio qualquer coisa que fique parada tempo o bastante. Seja em inglês, português ou língua do P. Talvez essa inclinação tenha se dado ao fato de que o inglês se tornou comum para mim muito cedo e muitos livros estivessem a minha disposição. Eu tenho uma relação com os clássicos que não me atrapalha com o pop. Bem, “A Morte é Legal” é inspirada num poema de T.S Eliot, com influência monstruosa de Wallace Stevens e Philip Sidney, entre muitos outros. Acho possível conciliar e girar dessa forma. Além disso, sou aluno de literatura inglesa, acho que isso influencia bastante. Acho que no mundo atual não existe mais isso de meu e do outro, tudo está globalizado e na sua frente para ser usado. Você pode ler autores gregos – Homero está por aí, colombianos,  japoneses ou africanos como Achebe e seu lindo Things Fall Apart ou Wole Soyinka – The King and His Horsemen.

 

4 – Umbrella Academy, de Gerard Way e Gabriel Ba

Umbrella Academy, de Gerard Way e Gabriel Ba

JA: Eu amo quadrinhos, eu tenho até um número razoável de graphic novels na minha estante. Sou apaixonado por Jimmy Corrigan, Cerebus, Sandman, Os Invisíveis e Planetary. Mas, The Umbrella Academy é um dos meus quadrinhos favoritos e o fato de ser escrito pelo Gerard Way – vocalista do My Chemical Romance – só ajuda. Minha tatuagem da Violino Branco, meu boneco do Número Cinco, meu papel de parede com Pongo e os cinco quadros com cada um dos integrantes não me deixam mentir. Sim, eu posso ser um nerd. Eu gosto de como essa história pode ir de um lado para o outro – cara, lutar contra a Torre Eiffel?! Eu amo a dinâmica que existe entre eles e a forma como você ama todos esses heróis hipsters. Eu amo nonsense – o que não quer dizer que se você colocar um elefante dançando balé vai me agradar. Eu acho que o bom nonsense existe numa coisa de transgressão do comum e da capacidade de maravilhamento do ser humano. Existe um ethos e um pathos que correm em paralelos eu acho que é exatamente isso que podemos observar nessa HQ. O único problema foi que depois de ter lido Dallas, o segundo volume, eu entrei num coma criativo, eu nunca conseguiria inventar algo mais cool do que o Hazel e o Cha-Cha.  Eu tenho ela autografada na minha casa, dia mais feliz!

Draco: O que você acha sobre a eterna briga: HQs x Literatura

JA: Quadrinho não é literatura. E isso não é uma ofensa. São artes e mídias diferentes, cada uma com sua possibilidade de exploração. Não acho que Promethea possa ser feito em nenhuma outra mídia que não a arte sequencial e o mesmo pode ser dito de Ulisses – que é a exploração definitiva do romance do século XX. São coisas que se tangenciam aqui e ali, mas são coisas diferentes e compará-las dessa forma é diminuir ambas. Por exemplo, compare Sussurro da Becca Fitzpatrick – que é um… romance – com Jimmy Corrigan ou Daytripper ou V de Vingança, a qualidade das graphic novels é superior, mas isso  não os transforma em romances.

 

5 – Thomas Pynchon 

Não é fácil encontrar fotos de Thomas Pynchon, pessoal

JA: O cara é doido e é o escritor mais legal do mundo. Pynchon é um escritor tão estranho que ninguém nunca viu o rosto dele – quer dizer, tem uma foto de 70 anos atrás que dizem que é dele. Não dá entrevistas, não aparece para receber prêmios e gosta de rock, matemática e teoria da conspiração. O cara é tão doido que chegaram a pensar que ele fosse o Unabomber! Pynchon escreveu “Gravity’s Rainbow” – aquela música do Klaxons é inspirada nele – um livro que entre muitas coisas fala sobre um tal Tyrone Slothrope que em cada lugar no qual ele teve uma ereção, cai um míssil. Ah, e tem polvo e um nariz gigante que invade uma cidade e só pode ser destruído com montanhas de cocaína. Ele escreveu Leilão do Lote 49, que é de morrer de rir. Vício Inerente foi o último e é o mais acessível, junto com Against The Day, comece por esses. Sua única aparição foi num episódio de Simpsons. Ele usava um saco de pão na cabeça. Gostei disso. Pynchon nos faz olhar para o mundo como uma pintura cubista, de vários ângulos.

Draco: Quais são outros autores que você admira?

JA: Delillo, Murakami e Takahashi são absurdamente criativos. China Mièville está um passo na frente de todo mundo e merece entrar nessa lista, assim como o Jacques Barcia – que é o autor de fantasia nacional que eu mais admiro. David Foster Wallace – Infinite Jest é lindo e eu até usei o nome Incandenza como minha identidade secreta depois de ter lido. Douglas Adams, Maurice Sendark, Ian McEwan, Virginia Woolf – não tudo – e Mark Twain. Menção honrosa para Mark Z. Danielewski e seu House of Leaves. Acho que é isso.

Esse não é Jim Anotsu

 

Jim Anotsu odeia dias de sol e chocolate amargo. Nasceu em algum lugar e foi por lá que começou a escrever. Seu autor favorito é R.L Stevenson. Annabel & Sarah foi escrito pouco depois de ter sido expulso de casa. Morou em Seattle e debaixo de algumas pontes por lá. Ama somente três coisas na vida: Livros, rock’n’roll e uma garota em especial. Atualmente se dedica à arte do tédio e aos cuidados com seu cão, Humbug.

 

 

0 Comments

  1. Alex Bastos disse:

    Quero uma camisa que diga: Eu não sou Jim Anotsu. Como lidar?

  2. Jim Anotsu disse:

    PS: Eu quero uma dessas camisas “I’m Not Thomas Pynchon”. Onde você achou essa foto @cirilolemos?

  3. Confesso, sou meio louca. Virei fã do Jim na primeira vez que li essa “biografia” dele, em que diz que ele “nasceu em algum lugar e foi por lá que começou a escrever”. Mas não me arrependo, porque adorei imensamente A&S, e adorei o que já li de A morte é legal.
    Adorei o Top 5, as perguntas, muuuito legal! *-*
    Ataques fangirl ao saber que você tem uma tatuagem, Jim! XD
    Vou nem falar que seus gostos são muito legais (ops, agora já foi, né…). Quando você fala de algo que gosta dá vontade de conhecer e gostar também! XD

    Ansiosa pelo lançamento de A Morte é Legal, UEBA! 😀

  4. Mary disse:

    No probs, Jim. Eu também beijaria o Bill.